Este tão tormentoso 2020 cabe exato no título de um conto do virginiano Caio Fernando Abreu: “Pela passagem de uma grande dor”. Tudo nos dói hoje: o corpo, a alma, o mundo, o planeta. Sob o céu de Virgem, signo associado à saúde, convém seguir refletindo sobre a dor, já que esse tema não sai do noticiário. No óbvio, a dor é um indicativo sensorial de que algo abala nosso padrão de ordem, seja física, mental ou emocional. A dor é uma mensagem, portanto. Mas, por ser naturalmente desagradável, nossa reação imediata é silenciar tal aviso. Achamos que matar o mensageiro resolve o problema sobre o qual ele veio informar. Tudo para não mudar a ordem interna que aparentemente nos sustenta. Até que a vida, sempre superior aos nossos controles e pretensões, nos dá uma rasteira em direção à vulnerabilidade. Aí, no rés do chão do demasiado humano, vamos sofrer em dobro: pela dor em si, enfim assumida a contragosto, e por não conseguirmos dominá-la sozinhos.
Opinião
Nivaldo Pereira: dentro dessa grande dor
Tudo nos dói hoje: o corpo, a alma, o mundo, o planeta