Dasarte Yarnway e Emlen Miles-Mattingly são dois consultores financeiros que querem ajudar a corrigir o problema de diversidade no setor de finanças pessoais. Há uma enorme barreira de entrada para novos consultores. Em primeiro lugar, esses profissionais devem seguir regras estritas de compliance e, se quiserem gerenciar ativos, precisam de um custodiante – uma instituição financeira que protege os títulos dos clientes.
De acordo com Miles-Mattingly, nos EUA, os custos iniciais para o registro podem variar de US$ 10 mil a US$ 15 mil, dependendo da quantidade de estados em que se deseja atuar. Sem surpresa alguma, o setor é dominado por homens brancos e velhos. “É bastante comum Emlen e eu sermos os únicos homens não brancos nas salas de reunião”, conta Yarnway.
De acordo com dados do Certified Financial Planner Board of Standards, organização norte-americana de certificação e definição de padrões, 47% dos consultores financeiros têm mais de 50 anos, 83% são brancos e 75% são do sexo masculino. No entanto, o perfil dos clientes está mudando.
Segundo um estudo de 2020 realizado pela McKinsey, mulheres controlam mais de um terço dos bens domésticos e espera-se que essa participação cresça ainda mais. Dados do Federal Reserve mostram que famílias brancas detêm a maior parte da riqueza nos Estados Unidos; já famílias negras e hispânicas estão conquistando poder aquisitivo em um ritmo acelerado.
Miles-Mattingly explica que consultores financeiros tendem a focar em famílias com grandes fortunas e não pensam em formas de ajudar a construir e aumentar a riqueza de outras.
“No mundo dos consultores financeiros, a melhor maneira de obter retorno é gerenciar ativos”, diz ele. “Mas grupos subrepresentados, em geral, não possuem ativos”.
Em sua própria empresa, a Gen Next Wealth, Miles-Mattingly oferece planejamento financeiro mensal para famílias que não se encaixam no perfil atendido por consultores tradicionais. “Queremos contribuir para que mais pessoas sejam contempladas”, explica.
Grupos marginalizados geralmente enfrentam dificuldades para encontrar consultores financeiros que os levem a sério ou que entendam suas necessidades específicas. Yarnway ressalta que esses clientes costumam ter objetivos diferentes, como ajudar parentes que moram no exterior ou planejamento financeiro para o nascimento ou adoção de um filho. Ele menciona o caso de uma mulher negra que conheceu, dona de uma fortuna enorme mas que, ainda assim, tinha dificuldade em encontrar bons consultores.
A Gen Next Wealth oferece planejamento financeiro para famílias que não se encaixam no perfil atendido por consultores tradicionais.
Profissionais que pertencem a grupos minoritários são capazes de entender essas necessidades, mas ainda permanecem subrepresentados, em parte devido à barreira de entrada. Recentemente, a dupla lançou o Onyx, plataforma voltada para ajudar esses consultores a construir e consolidar suas carreiras. Com uma assinatura de US$ 549 por mês, ele dá acesso a serviços de tecnologia e negócios (como armazenamento de dados), ferramentas de gerenciamento, arquivamento e relacionamento com o cliente, além de oferecer assistência de compliance.
Miles-Mattingly e Yarnway estimam que o Onyx será capaz de gerar uma economia de cerca de US$ 10 mil por ano aos novos consultores. Também pretendem criar uma rede de assistência e suporte. Sua estimativa é alcançar 100 assinantes até o final do ano, com planos futuros de ampliar os serviços oferecidos na plataforma. “Queremos abrir o caminho para que qualquer pessoa possa entrar para o setor de finanças pessoais”, diz Miles-Mattingly.
