Tirem as crianças da sala, vou reproduzir um trecho do livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório. “O Tio Zé Carlos era da Polícia Civil e fazia questão que todos soubessem disso, pois, sempre que chegava, ele tirava a arma da cintura e a colocava em cima da estante e dizia: crianças, não mexam nisso, entenderam? (...) Sua avó tinha grande orgulho. Era sem dúvida o filho preferido. Zé Carlos se gabava de ter matado um vagabundo, como ele mesmo dizia, que tentou assaltá-lo certa vez. Mesmo que a investigação do caso tivesse apontado indícios de que não houve assalto e que seu tio estava, na verdade, envolvido com tráfico de armas e drogas,...”
Nenhuma escola chiou. Ninguém achou essa passagem inadequada para estudantes do Ensino Médio, mesmo contendo arrogância, mentira, incitação à violência.
E ninguém tem que chiar mesmo. Literatura não é manual de etiqueta. Não é passatempo para donzelas. O livro é a ponte entre a inocência e a vida. Uma forma de abrir a janela de casa para enxergar o mundo e ter as emoções despertadas. E elas são vastas, vão da alegria ao medo. A formação de um ser humano mentalmente saudável começa na família, recebendo amor e bons exemplos, e continua no acesso ao que existe lá fora, no estímulo à imaginação e ao conhecimento.