Acordo cansada. Me deito cansada. Entre os extremos do dia, evito que meus pensamentos sejam infectados pela fadiga. De manhã, ergo pesos de quatro quilos, 15 repetições, agacho, levanto, só mais 300 abdominais. Em seguida, percorro os corredores do supermercado contando os passos no aplicativo do celular e cruzo pela gôndola dos dietéticos sem me dar conta de que esqueci de pegar o chocolate 80% cacau – me obrigo a voltar e adiciono mais cem passos.
Trabalho sentada, benção e castigo. Custo a me concentrar, ainda não consigo deixar o celular fora de alcance, duas horas se passaram e renderam meio parágrafo.
Trânsito. Saio da garagem, escolho a playlist do dia – jazz, MPB, pop? – e a música me salva de gritar em meio ao congestionamento. Desolador cenário urbano: todos enlatados, a caminho de um encontro urgente que daqui a dois dias ninguém lembrará para que serviu.
Onde quer que eu esteja, o WhatsApp está comigo. A família inteira, os amigos, os desconhecidos, as relações profissionais, minha melhor confidente e o gerente do banco têm o mesmo acesso direto a mim: o sinal avisa de cinco em cinco minutos que alguém está querendo me contatar e a gente se ilude que é importante.
Preocupações. Não posso parar. Não devo. Tenho que vencer o dia, mesmo sabendo que é ele que vence sempre – ao anoitecer, fecho os olhos e mergulho num sono entrecortado. Durante a madrugada, em algum momento, desperto, talvez pela culpa de ter freado.