Vó, eu tô escrevendo no Zero Hora! Lembra quando o vô comprava o jornal Zero Hora no domingo? Enquanto tu fritavas bolinhos de arroz e nós roubávamos todos antes de chegar na mesa? Pois é, Vó, eu tô importante. Sabe que o Veríssimo e a Lya Luft também escrevem aqui, Vó? Tô vendo a tua cara dizendo: “Te mete Beta!”
Tenho outra coisa pra te contar, Vó. Não sei se tu vais entender, mas preciso contar: voltei a vender quentinhas. Lembra do tempo em que vendíamos quentinhas? A gente se divertiu nessa vida, Dona Iracema! Muita coisa pra te contar. Mas, encurtando a conversa, tiraram o mundo da tomada, Vó. Estão todos atordoados, amedrontados e trancados em casa. Usamos máscaras pelas ruas.
Fico imaginando a briga que seria pra te convencer a usar esse troço! Não podemos nos abraçar, nos beijar, nada. Mas, a gente é como médico, Vó, não pode parar. É nessa hora que precisamos arregaçar as mangas e mexer as panelas. As pessoas têm gostado das quentinhas Vó. Faço como tu me ensinaste: tudo muito fresquinho e preparado no dia.
Tu dizias: “Tem que caprichar Beta, as pessoas percebem”. Advinha quem comeu minhas quentinhas ontem? O Caetano Veloso, Vó!
Te mete Beta!