Não tem muito o que dizer agora. Tenho tentado fazer um exercício de otimismo, mas é realmente bem difícil. Qualquer coisa que se diga é adivinhação, não há bola de cristal, infelizmente. O que se sabe é que precisamos muito uns dos outros e que não podemos desanimar. A gente vai sair dessa.
Temos uma página em branco para começar tudo novamente, estabelecer uma nova ordem das coisas. Ficamos aqui tentando tirar proveito de bons exemplos criados para fazer do limão uma limonada. Tem gente reposicionando temporariamente seu negócio para telentrega, o que eu acho ótimo. Também tem os que, sem sistema de tele, estejam trabalhando num formato de encomenda passa-e-pega. Nos Estados Unidos, tem até um cara fazendo uma espécie de corrente do bem, estimulando as pessoas a comprarem vouchers com valores determinados dos seus restaurantes preferidos para serem utilizados no futuro (chamado "saveourfaves", ou ajude nossos favoritos).
Tudo isso é uma maneira de perpetuar um setor que sofre tanto, que agoniza há anos, que toma porrada de tudo que é lado, mas que agora tomou o golpe mais fatal de todos. Ok que não é sobre cada um de nós, e nossos problemas individuais não são mais importantes do que a coletividade. Mas a gastronomia não merecia essa, cara. Só o que eu consigo agora é dizer para todos vocês que contem muito conosco enquanto mola propulsora do mercado como um todo. Tenham na gente a voz de todos nós, levaremos nossa bandeira até onde for preciso.
Aconteça o que acontecer, existem duas coisas que nunca vão mudar: as pessoas precisam comer e as pessoas precisam de trabalho. Por isso, durante as próximas semanas, contem com o Destemperados como parte desse movimento. Gritaremos até faltar voz, pra quem quiser ouvir, que a gastronomia cura, a gastronomia cuida, a gastronomia transforma. É capaz de mudar um dia, uma história, de criar memórias. E que nós todos vivemos pra colocar mais gastronomia na vida das pessoas.