Minerva é o nome latino da deusa grega Palas Atena, também celebrada em Roma. Seu nome, porém, acusa origem a partir da deusa etrusca Menrva, filha de Tin e Uni, rei e rainha dos deuses etruscos, em tríade cultuada conjuntamente. Quando os romanos expulsaram o último rei, Tarquínio, e fundaram a República, em 509 a.C., instalaram no monte Capitólio o templo mais importante de Roma, para o culto da Tríade Capitolina: Júpiter (Zeus), Juno (Hera) e Minerva (Atena). O nome original Menrva (pronuncia-se Menrua) liga-se à mesma raiz indo-europeia que designa mens, e significa mente ou inteligência, atributo central desta entidade, em suas versões etrusca, romana e grega. Você acha que sabe o que é o voto de Minerva? Vejamos.
Desde cedo os romanos acostumaram-se a aprender com os gregos, que haviam colonizado o sul da península itálica a partir de Nápoles (nea polis, cidade nova) desde 736 a.C., apenas 13 anos após a mítica fundação de Roma, em 753 a.C. Com a influência grega sobre Roma, seus panteões integraram-se com nomes diferentes mas as mesmas identidades, histórias míticas, formas de representação e cultos, em um processo concluído no século II a.C.. Deste modo, tal qual Palas Atena, Minerva nasce da cabeça de Júpiter, após este ter devorado a deusa titã Métis (astúcia), para evitar parto ameaçador.
O famoso voto de Minerva origina-se de uma obra da literatura grega que se passa em Atenas e tem Palas Atena como protagonista. Trata-se de um júri criminal, no Areópago, a rochosa colina de Ares (Marte, sanguinolento deus da guerra), diante da Acrópole, onde sediava-se o tribunal dos crimes de sangue. O fato é analisado pelo poeta Ésquilo (525-455 a.C.) na tragédia Eumênides, última da única trilogia que chegou a nós, a Oresteia (458 a.C.). Nesta, dramatiza-se em Agamêmnon o retorno do líder grego a Micenas, onde é assassinado por sua esposa Clitemnestra, que então conclui a tomada do poder; na segunda peça, As Coéforas, o filho deste casal, Orestes, retorna e mata a mãe para vingar o pai; a seguir, atormentado por paranoias (Erínias), busca socorro no oráculo de Delfos, que o encaminha para julgamento em Atenas, tema de Eumênides.
Finda a votação, está Orestes condenado pelo júri, mas Atena, que conduzia o processo, então toma a palavra e declara (na tradução de Jaa Torrano, 2004): “Eis minha função, decidir por último./ Depositarei este voto a favor de Orestes./ Não há mãe nenhuma que me gerou./ Em tudo, fora núpcias, apoio o macho/ com todo ardor, e sou muito do Pai./ Assim, não honro o lote de mulher/ que matou o guardião da casa./ Vence Orestes, ainda que empate”. O voto de Minerva (Palas) estabelece com o empate o princípio civilizatório do Direito, in dubio pro reu, que garante a absolvição do acusado quando não há convicção plena. Note-se, ademais, que estes versos são a passagem mais chauvinista da literatura grega, sublinhando o triunfo viril em uma polis falocrática.
Todos os deuses são invenções culturais que ilustram a história da cultura; neste caso, na obra histórica de um poeta, um fundamento imperecível da civilização.