Um grupo de pesquisadores da França encontrou um dente de uma criança com pelo menos 130 mil anos no Laos, ao sul da Ásia. Segundo os especialistas, o fóssil pertence aos homens de Denisova, uma possível espécie de hominídio considerado como "parente" extinto do homem moderno e com características semelhantes aos neandertais. A descoberta comprova que essa espécie viveu no sudeste asiático e foi matéria de um artigo publicado na terça-feira (17) na revista científica Nature Communications.
O homem de Denisova foi identificado pela primeira vez em 2010 em uma gruta da Sibéria. Utilizando a técnica de análise de DNA de um pequeno osso de um dedo, os paleontólogos conseguiram sequenciar o genoma completo.
Em 2019, os cientistas também localizaram uma mandíbula com dentes grandes no planalto tibetano. O achado reforçou que a espécie viveu nessa região da China. Mas além desses fósseis, a comunidade científica não tinha outros elementos para estudar o homem de Denisova, além dos genes. Antes de desaparecer totalmente, a espécie se miscigenou com o Homo sapiens e deixou rastros de seu DNA nas populações atuais do sudeste asiático e da Oceania.
O paleontólogo Clément Zanolli, do centro nacional francês de pesquisas científicas (CNRS) e coautor do estudo publicado, disse à AFP que os geneticistas deduziram que os ancestrais modernos dessas populações se misturaram aos denisovanos no sudeste asiático, mas faltava a prova física de sua presença nessa parte do continente asiático, até que uma equipe de cientistas decidiu escavar a gruta de Cobra, no nordeste do Laos.
A caverna, situada em uma montanha, foi descoberta em 2018 por espeleólogos perto da jazida de Tam Pa Ling, onde já tinham sido descobertos restos humanos. Os sedimentos conservados nas paredes continham fragmentos de ossos de animais, assim como um dente molar. O fóssil tinha uma morfologia tipicamente humana . Clément destacou no estudo que o dente provavelmente pertencia a uma criança entre três e oito anos.
Segundo o paleoantropólogo Fabrice Demeter, pesquisador da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e coautor do estudo, como o fóssil era muito antigo, foi impossível identificar a sua data por radiocarbono. Além disso, seu DNA estava mal preservado devido ao clima quente e úmido.
Datação dos sedimentos
Os pesquisadores decidiram superar este obstáculo datando os sedimentos que continham os restos dentários e em seguida sua camada superior. Eles chegaram a um intervalo entre 160 mil e 130 mil anos. Em seguida, estudaram o interior do dente, levado temporariamente para a Dinamarca.
— As proteínas nos permitiram identificar o sexo feminino e confirmar que pertencia ao gênero Homo — explicou Fabrice Demeter, que é afiliado ao Museu Nacional de História Natural de Paris.
Surpreendentemente, a estrutura do dente se mostrou próxima da dos molares do homem de Denisova do Tibete. E podia se distinguir facilmente de outras espécies. O único problema é que tinha características comuns aos neandertais, os quais são geneticamente próximos dos denisovanos.
— Mas nos inclinamos por Denisova porque nunca encontramos provas de que os neandertais tenham se deslocado tanto para o leste — explicou Zanolli.
Conclusões dos especialistas
O estudo conclui que os denisovanos ocuparam o sul da Ásia e se adaptaram a uma ampla gama de ambientes, de altitudes frias e climas tropicais. Segundo Fabrice, os neandertais não pareciam ter essa versatilidade, pois estiveram mais presentes nas regiões frias do Ocidente.
Outra conclusão que os paleontólogos chegaram é que foi nos trópicos que os últimos denisovanos conseguiram se encontrar e miscigenar com grupos humanos do Pleistoceno (entre 2,5 milhões de anos e 11,7 mil anos), o que fez com que transmitissem sua herança genética às populações atuais do sudeste asiático.