Sobrevoando o céu sem nuvens de Bangcoc, um pequeno avião pulveriza gelo seco sobre uma espessa camada de poluição atmosférica, um método experimental e cientificamente não comprovado de combate à poluição do ar na capital da Tailândia.
A cidade, de cerca de dez milhões de habitantes, vive um grave episódio de poluição, com mais de 350 escolas fechadas nesta sexta-feira (24) e níveis de micropartículas cancerígenas no ar sete vezes superiores ao máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Esses fenômenos deixaram mais de um milhão de pessoas doentes desde o final de 2023 e custaram ao reino mais de 88 milhões de dólares (R$ 522,6 milhões) em despesas médicas, de acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados este mês.
Segundo o governador de Bangcoc, Chadchart Sittipunt, os principais culpados são as emissões dos veículos, a queima de resíduos agrícolas nos arredores e as condições climáticas "rígidas".
O último fator se refere a um fenômeno conhecido como "camada de inversão", que atua como uma tampa de ar quente sobre a cidade e impede a dispersão de gases nocivos.
Para combater esse fenômeno, o reino turístico do sudeste asiático envia duas vezes por dia aviões que pulverizam essa camada de ar quente com água fria ou gelo seco, apesar das críticas sobre sua eficácia.
Em um desses aviões, que a AFP teve acesso, um cientista controla a trajetória do voo em um tablet e dois tripulantes liberam água gelada de dois recipientes azuis localizados na barriga do avião.
A teoria é que reduzir a diferença de temperatura facilitaria a liberação de micropartículas cancerígenas PM2,5.
De acordo com o departamento responsável, esse método não convencional é usado apenas na Tailândia.
"Esta não é uma semeadura de nuvens típica", diz o chefe do programa, Chanti Detyothin.
- "Limitações" -
Vários países buscam há muito tempo aliviar a seca e a poluição por meio da "semeadura de nuvens", que envolve a injeção de produtos químicos, como iodeto de prata, nas nuvens para induzir chuva ou neve.
Vozes científicas contestam sua eficácia e afirmam que os benefícios são marginais quando se trata de causar precipitação ou absorver poluentes.
O pior período de poluição na Tailândia é durante a estação seca, entre dezembro e abril, quando há muito vento e o céu está sem nuvens para induzir chuva.
Essa nova técnica de pulverização de gelo foi usada pela primeira vez no ano passado e ainda está em fase de testes.
Antes e depois de cada pulverização, outras aeronaves medem as concentrações de partículas poluentes para avaliar mudanças na qualidade do ar.
"A concentração é menor", diz Chanti. "Os dados sugerem que na área onde operamos, a poeira está dispersa", afirma, mas admite que não é possível "eliminar completamente a poluição".
"Mesmo com essa nova tecnologia, há limitações", reconhece.
- Empresas energéticas -
Antes da decolagem, os funcionários de seu departamento carregam uma tonelada de gelo seco ou uma mistura de água e gelo no avião.
O gelo seco (dióxido de carbono solidificado) é fornecido pela gigante tailandesa de petróleo e gás PTT e outras empresas de energia.
A PTT não respondeu aos pedidos de comentários da AFP até o momento.
Outra empresa petrolífera, a Bangkok Industrial Gas, também doou gelo seco ao programa este mês. Seu CEO, Pyabut Charuphen, afirmou que faz parte de "seu compromisso em criar um futuro sustentável".
No entanto, o dióxido de carbono é um gás de efeito estufa e os efeitos ambientais e de saúde de sua liberação na forma solidificada na atmosfera não são totalmente compreendidos.
Weenarin Lulitanonda, cofundador da Thailand Clean Air Network, diz que as empresas de energia usam o esquema para melhorar sua imagem, mas não resolvem o problema.
Só um voo pode custar até 1.500 dólares (R$ 8.908). Como os aviões decolam de três bases no país, o custo diário pode chegar a 9.000 dólares (R$ 53.453).
Ekbordin Winijkul, do Instituto Asiático de Tecnologia, acredita que seria mais eficaz atacar as raízes do problema com medidas comprovadas, como a implementação de zonas de baixa emissão.
As autoridades municipais já restringiram o tráfego de veículos pesados e trabalham com outras províncias para controlar a queima de resíduos.
"Antes de testar" novos métodos, "deveríamos pelo menos ser capazes de confiar nos dados", ele argumenta.
* AFP