A guerra da Ucrânia afeta também a segurança dos europeus, afirma o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, em entrevista à AFP após uma visita de dois dias a Kiev.
A mensagem recebida nas suas reuniões foi clara: a Ucrânia precisa de entregas rápidas de munições, essenciais para que suas tropas resistam à ofensiva do Exército russo, cuja invasão completa dois anos no dia 24 deste mês.
Volodimir Zelensky pediu "mais munições, drones e sistemas de defesa aérea", disse Borrell na rede social X, após reunião com o presidente ucraniano na quarta-feira.
O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, insistiu na mesma linha: "Sentimos esta escassez de munições todos os dias", afirmou em conferência de imprensa com o diplomata europeu.
Borrell destacou que a UE forneceu quase 28 bilhões de euros (32,2 bilhões de dólares ou 159 bilhões de reais) de ajuda militar à Ucrânia em quase dois anos de guerra, mas admitiu que não poderá entregar o milhão de obuses prometidos antes do final de março. O bloco dos 27 enviou apenas um pouco mais da metade.
Pergunta: A Ucrânia precisa de munições e teme que a ajuda militar enfraqueça. Os europeus estão fazendo suficiente, especialmente em referência a sua indústria de defesa?
Resposta: Estamos ajudando a Ucrânia, a ajuda europeia alcançou até agora 88 bilhões de euros (469 bilhões de reais) e acabamos de prometer 50 bilhões de euros suplementares (266 bilhões de reais). Estamos nos esforçando para aumentar a ajuda militar, não são palavras ao vento, não são apenas palavras. Devemos ajudar este país a se defender.
Em relação às indústrias de defesa na Europa, cada Estado-membro deve monitorar o destino da produção. Levantei esta questão a meus colegas ministros da Defesa na última reunião em Bruxelas: cada um de vocês, por favor, vejam qual é sua prioridade. Se for a Ucrânia, então é necessário rever o contrato de exportação das suas empresas. Mas todos devem fazer isto em casa, não podemos fazê-lo em Bruxelas.
Pergunta: Um certo cansaço é mencionado na Europa e Estados Unidos após quase dois anos de guerra. Alguns se questionam se devem ajudar a Ucrânia. O que você diria?
Resposta: A Europa deve compreender que a guerra na Ucrânia afeta sua própria segurança. É também nossa segurança que está em jogo. Não é apenas porque os ucranianos são nossos amigos, mas porque o que está em jogo é a segurança da Europa.
Há uma tarefa pedagógica a cumprir, especialmente antes das eleições europeias [em junho], para explicar o que é, por que ajudamos a Ucrânia e compreender o que poderá significar uma derrota para a Ucrânia.
Isto significaria (ter) o Exército russo na fronteira da Europa. Isto significa que Putin pode pensar que se ganhou uma vez, porque não poderia ganhar uma segunda vez contra outro vizinho, isso significaria que a Rússia controlaria 35% dos mercados mundiais de trigo. Existem perspectivas que as pessoas deveriam conhecer.
Pergunta: Teme uma grande ofensiva russa em um momento em que a Ucrânia parece em uma posição menos favorável, sem armas e tropas suficientes?
Resposta: A Rússia está pronta para tudo. Putin não tem intenção de ceder, a sua sobrevivência política está envolvida e, claramente, ele está disposto a fazer qualquer coisa e não se preocupa em sacrificar o seu Exército e o seu povo. A Rússia está sofrendo enormes perdas materiais e humanas.
Os ucranianos devem vencer a guerra contra um sistema não democrático e violento, que tem uma nostalgia imperial. O que acontece com a Rússia de Putin é que ela sente nostalgia do império soviético socialista .
* AFP