Quando uma explosão abalou o pequeno povoado polonês de Przewodow, fronteira com a Ucrânia, o primeiro pensamento de Joanna Magus foi de que algo havia acontecido no armazém de secagem de grãos.
A realidade era muito pior: um míssil atingiu e matou duas pessoas, deixando a cidade no centro de uma perigosa virada na guerra na Ucrânia.
"Estou com medo. Não dormi a noite toda", diz à AFP Joanna Magus, 60 anos, professora de uma escola primária nesta cidade localizada a seis quilômetros da fronteira.
"Espero que seja um míssil perdido porque, se não for, estamos indefesos", explica ela a caminho do trabalho, na cidade de cerca de 500 habitantes.
Na quarta-feira (16), a Rússia acusou a Ucrânia da explosão. O presidente polonês, Andrzej Duda, disse que provavelmente foi um foguete disparado pela defesa antimísseis da Ucrânia contra um ataque russo.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Polônia, a explosão ocorreu às 14h40 GMT (11h40, no horário de Brasília) de terça-feira (15).
Moradores do povoado declararam que o impacto havia sido em uma fábrica de secagem de grãos, localizada próximo à escola.
Quando o projétil disparou, Magus estava sentada em casa. Suas janelas são viradas para o celeiro.
"Ouvi uma grande explosão, um estouro terrível. Subi para a janela e vi uma enorme nuvem de fumaça escura (...) Vi pessoas correndo", disse ela.
"Pensei que talvez algo tivesse acontecido no celeiro, que um dos equipamentos tivesse girado e explodido", acrescenta.
- "Pânico total" -
A mulher disse que seu marido estava do lado de fora, no momento da explosão. Então, ela o telefonou e soube que ele viu "mais ou menos o que havia acontecido".
"Ele estava apavorado. Ele disse que algo havia explodido e temia-se que duas pessoas tivessem morrido. Foi pânico total", conta.
As duas mortes foram de dois homens com aproximadamente sessenta anos que trabalhavam nas instalações de secagem.
Ewa Byra, diretora da Escola Primária de Przewodow, disse que um dos mortos era casado com uma das mulheres que limpava o estabelecimento. O outro homem era pai de um ex-aluno.
"Não esperávamos tal fato, mesmo que aconteçam acidentes. Especialmente quando a guerra ocorre a apenas seis quilômetros da cidade", disse à AFP.
A diretora anunciou que seria montada uma célula de apoio psicológico para os alunos e para qualquer morador que aparecesse na escola.
Um jornalista da AFP na cidade constatou que o local da explosão foi isolado pela polícia. Vários agentes vigiavam a estrada que leva a este pequeno vilarejo que, além da escola e das casas, tem uma igreja e um cemitério.
O padre Bogdan Wazny explicou à AFP que a cidade esvaziou assim que as pessoas souberam do míssil. Ninguém foi à missa na tarde de terça-feira, algo inédito nesta região muito católica.
O padre diz que conhecia bem as duas vítimas. "Eles eram muito gentis. Ajudavam na paróquia sempre que eu pedia", acrescentou o padre.
"Acabamos de reformar a fachada da igreja e um deles deu uma mão", disse ele.
A comunidade onde Przewodow está localizada anunciou três dias de luto.
* AFP