Ao menos 51 civis foram assassinados no domingo (8) no norte do Mali, em ataques contra três localidades perto da fronteira com o Níger atribuídos aos extremistas, informaram autoridades militares.
Um documento da prefeitura local, consultado pela AFP, indica que 51 pessoas morreram em ataques simultâneos contra as cidades de Karou, Ouatagouna e Daoutegeft, na região de Gao. As casas foram saqueadas e incendiadas e o gado foi levado.
Todas as fontes ouvidas pela AFP pediram para não serem identificadas por razões de segurança.
"Em Karou, 20 civis foram massacrados. Em Ouatagouna, 14 civis foram assassinados e, na aldeia de Daoutegeft, outros civis foram massacrados", relatou um político de uma destas localidades.
Os agressores chegaram de motocicleta e tomaram a população de surpresa, acrescentou.
Outro membro eleito de uma quarta localidade também relatou um ataque em sua aldeia. Um destacamento militar foi enviado para a área para ajudar a população, informou um oficial militar.
Um trabalhador de uma ONG do Mali disse que as comunicações com a área atacada estão precárias. Assim como uma parte do norte deste país africano, a região se viu isolada das redes nos últimos dias, devido à ofensiva atribuída a extremistas contra infraestruturas de telecomunicações.
Este país pobre da região do Sahel e sem litoral se encontra mergulhado em um profunda instabilidade política e insegurança desde 2012.
As insurgências separatistas e agora "jihadistas" lideradas por grupos ligados à Al-Qaeda e à organização Estado Islâmico, assim como a violência entre comunidades e as atrocidades de todo o tipo, inclusive por parte das forças de segurança, causaram milhares de mortes de civis e militares e o deslocamento forçado de centenas de milhares de pessoas - tudo isso apesar do destacamento de forças da ONU, francesas e estrangeiras.
- Estado falido -
Do norte do Mali, a violência se espalhou para o centro do país. Depois, chegou aos países vizinhos, Burkina Faso e Níger, provocando estragos, sobretudo, na população civil.
Em Burkina Faso, ao menos 12 soldados morreram e outros ficaram feridos, também no domingo, durante um ataque de supostos extremistas no noroeste do país, perto da fronteira com o Mali, anunciou nesta segunda-feira (9) o ministério da Comunicação de Burkina.
O especialista independente das Nações Unidas sobre a situação dos direitos humanos no Mali, Alioune Tine, ficou alarmado, na semana passada, com a "grave e contínua deterioração da segurança", com o fato de se ter superado um "limiar crítico" e com o grande perigo que este quadro representa para a própria existência do Estado do Mali.
Após uma visita de 11 dias, Tine falou do "fracasso das instituições estatais", dos "ataques totais contra a população civil" cometidos pelo Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, ou JNIM, afiliado à Al-Qaeda)", pela organização do Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS) e por outros grupos armados. Isso sem falar nos sequestros, estupros coletivos e na violência perpetrada pelas forças de segurança que, supostamente, teriam de proteger os civis.
Os 258 casos de abuso dos direitos humanos cometidos por grupos armados e por milícias comunitárias nos primeiros seis meses de 2021 já representam 88% do total em 2020, advertiu Tine, em um comunicado.
O especialista acrescentou que a missão da ONU (Minusma) "identificou pelo menos 43 execuções extrajudiciais, sumárias, ou arbitrárias, cometidas pelas Forças de Defesa e de Segurança do Mali (FDSM) entre 1º de abril e 30 de junho de 2021".
O Mali sofreu dois golpes de Estado militares em um ano. O poder dominado pelos coronéis fez da segurança uma de suas prioridades, sem conseguir frear a espiral. Além disso, se comprometeu a ceder o posto aos civis eleitos no início de 2022.
* AFP