Nas universidades e faculdades, a tendência é que mesmo após a pandemia de covid-19, as aulas remotas ou a educação a distância (EAD) tenham mais adesões e, em alguns casos, até superem as presenciais. Para se ter uma ideia, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e o Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) decidiram manter o ensino remoto à disposição dos acadêmicos para 2021, mesmo com a volta das aulas presenciais no ano que vem.
É preciso esclarecer que EAD e ensino remoto, que é a modalidade implantada hoje por diversas universidades para fazer com que o conteúdo chegue até o aluno, não são a mesma coisa. O ensino remoto é parecido com a EAD apenas no que se refere a uma educação mediada pela tecnologia. No entanto, os princípios seguem os mesmos da educação presencial. Na educação a distância, o apoio dos professores não ocorre em tempo real e a carga horária pode ser diluída em diferentes recursos midiáticos. Contudo, indiferente do modelo, é perceptível que a pandemia acelerou uma tendência: as aulas online devem superar as presenciais antes do previsto em pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
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A projeção era que 51% dos estudantes matriculados em 2023 optariam por cursos a distância, contra 49% que escolheriam salas de aula tradicionais. A perspectiva levou em conta dados do Censo da Educação Superior, realizado pelo Inep/MEC, em 2018. O levantamento mostrou que foram registradas, pela primeira vez na série histórica do instituto, mais vagas oferecidas a distância do que em cursos presenciais. Naquele ano, 7,1 milhões de vagas foram abertas para a EAD, enquanto 6,3 milhões estavam disponíveis em salas de aulas nas universidades.
ENSINO REMOTO X EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Na UCS, por exemplo, há cursos com EAD e aulas remotas, que estão ocorrendo atualmente e não são caracterizadas como educação a distância. Isso porque, as atividades acontecem ao mesmo tempo. Ou seja, professor e aluno estão online e há interação como se estivessem em sala de aula. Diante do atual cenário e da experiência vivenciada em 2020, algumas disciplinas terão aulas remotas em tempo real em 2021:
- Temos essa questão da flexibilização e de desenvolver competências para que os estudantes tenham experiência e vivência para fazer frente aos desafios do dia a dia. É uma flexibilização que acolhe esse perfil diferente de estudantes e que busca preparar os alunos para enfrentar o cotidiano e qualificar a atuação profissional. Eles terão múltiplas chances de aprendizado - explica a pró-reitora acadêmica da UCS, Nilda Stecanela.
Ela acrescenta ainda que é preciso usar a tecnologia para que os acadêmicos tenham mais suporte diante das novas tendências:
- Temos que preparar os alunos para que vivam essas novas tendências que surgem a partir da pandemia e criar esse suporte que eles precisam no processo de aprendizagem.
Modelos deverão se complementar
Se antes o estudante tinha a sala de aula como um ambiente de aprendizagem, onde adquiria conhecimento, hoje ele pode aprender de qualquer lugar. Basta que esteja conectado à internet. O ensino remoto já é conhecido entre pesquisadores como híbrido e poderá se consolidar ainda mais no mundo pós-pandemia. Como foram impedidas da noite para o dia de continuar com aulas presenciais, as instituições de ensino passaram as aulas presenciais para o ambiente virtual:
- O mercado do Ensino Superior está passando por uma transformação. Entendo que a pandemia acelerou esse processo e tivemos o deslocamento das atividades para o ensino remoto. Mas, nesse caso, as aulas passaram dos campus para a casa do aluno, no mesmo modelo - ressalta Carlos Fernando de Araújo Júnior, pró-reitor de Educação à Distância da Cruzeiro do Sul Virtual, grupo ao qual pertence a FSG.
Ele acredita que os dois modelos vão se complementar. Segundo o pró-reitor, pesquisas apontam que, no futuro, os cursos mais procurados serão os híbridos, que mesclam momentos presenciais e atividades executadas de forma remota.
- As atividades expositivas podem ser feitas online, e isso deve ser reduzido bastante, sendo que o espaço das faculdade ficará para debates, atividades práticas e laboratórios. O teórico vai para o online. As matrículas vão continuar crescendo e terá quem opte tanto pelo ensino remoto quanto pela educação a distância - projeta.
"A pandemia foi um acelerador digital", afirma especialista
Para a doutora em Inteligência Artificial Aplicada à Educação, coordenadora do UCS Digital e professora colaboradora do programa de pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGCiMa), Elisa Boff, tanto a EAD quanto o ensino remoto são voltados para jovens e adultos. A EAD tem um público específico a partir de 25 anos, sendo que muitos alunos estão cursando uma segunda graduação e tem uma rotina de trabalho mais agitada.
Ela acredita que instituições já familiarizadas com o EAD contam com um atalho para converter cursos presenciais em híbridos:
- Acho que as duas modalidades vão se fortalecer, mas essa tendência de ensino remoto não é para substituir o presencial e, sim, para que os alunos tenham liberdade de escolha. A pandemia foi um acelerador de transformação digital. Nós não vamos voltar para o ponto de antes. Os professores tiveram que se apropriar da tecnologia e agora só vamos além do que já íamos em sala de aula.
A especialista acredita ainda que as universidades vão aumentar as ofertas e oferecer essas escolhas aos alunos:
- Alguns se deslocam por duas horas ou mais para estudar. Com o ensino remoto, eles economizam tempo e dinheiro e tem o mesmo atendimento que teriam em sala de aula. Eles mantêm a vida acadêmica, o contato com colegas, convivência com professores e, ao mesmo tempo, montam o currículo de maneira mais flexível.
Mensalidade acessível e flexibilidade
A flexibilidade para estudar e a economia são as vantagens apontadas por estudantes que optam por essa modalidade de ensino. Ao manter um curso a distância, a faculdade não tem os mesmos gastos que teria se as aulas fossem presenciais. O aluno, por sua vez, economiza com deslocamentos, alimentação fora de casa e cópias de materiais. O custo da graduação foi um dos primeiros critérios avaliados pela caxiense Ariana Busnello na hora de escolher cursar Ensino Superior. Quando ela pesquisou os preços em faculdades e universidades concluiu que frequentar uma sala de aula física todos os dias seria inviável naquele momento do ponto de vista financeiro.
- Ou iria atrasar mais uma vez o início da universidade ou nunca iria fazer o que eu queria, que é Ciências Contábeis. Analisei outras possibilidade e optei por um curso a distância. Economizo tempo, porque tenho flexibilidade de horário, e dinheiro, porque as disciplinas são mais em conta em EAD.
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