O Pioneiro perguntou a quatro prefeitos da Serra, um de cada subdivisão (Campos de Cima da Serra, Hortênsias e Vale da Uva e do Vinho), além de Caxias, o que pensam destes seis meses de pandemia. Foram entrevistados Flávio Cassina, de Caxias, Guilherme Pasin, de Bento Gonçalves, Fedoca Bertolucci, de Gramado. Em Vacaria, o secretário de Saúde do município Márcio Tramontina respondeu pelo gestor público Amadeu Boeira.
Qual o legado que a pandemia deixará para a cidade e qual o investimento até aqui?
Cassina: Acredito que a união de esforços em função de algo desconhecido foi o principal legado da pandemia. Todos – poder público, empresários, sindicatos, trabalhadores e comunidade – se uniram num esforço conjunto para enfrentar uma doença desconhecida. Vimos também um espírito solidário sem igual. Investimos até aqui mais de R$ 3 milhões na área da assistência social (basicamente compras de cestas básicas) e R$ 40 milhões na área da saúde (apenas com a covid-19).
Pasin: Acredito que o maior legado é a estruturação do sistema de saúde em nossa cidade para resposta a grandes problemas. Com o apoio da comunidade, construímos 40 leitos de isolamento, oito salas de mini UTIs, compramos EPIs, monitores, respiradores, treinamos nossas equipes com critérios de primeiro mundo. O maior legado é a soma de tudo isso. Além disso, ampliamos os leitos de UTI, que de 20 passaram para 50. Destes, 23 para o SUS.
Fedoca: Fomos impiedosamente derrotados pela covid-19 a ponto de nos obrigar a reconhecer a impossibilidade de enfrentamento da moléstia. Em termos de investimentos, foram oito novos leitos específicos, contratação de profissionais, além de compra de testes e equipamentos que detectam aglomerações em locais públicos.
Márcio: A ideia da vida em sociedade e a importância da coletividade é o que mais fica evidente. O município já investiu mais de R$ 9 milhões no combate à pandemia.
O que se pode esperar quando tudo isso passar? A cidade vai se comportar de maneira diferente?
Cassina: Alguns setores da economia precisarão se reinventar, criar soluções para sair da crise. E, como temos a herança de luta, trabalho, fé e empreendedorismo dos nossos antepassados, vamos conseguir nos reerguer. Por outro lado, muitas famílias sofreram perdas irreparáveis. O isolamento social fez com que, na minha opinião, as famílias se fortalecessem mais. Isso ficará para sempre. Também acredito que as tecnologias vieram para ficar. Muitos encontros presenciais não vão mais acontecer, pela facilidade dos encontros virtuais.
Pasin: Historicamente, situações desta gravidade são sucedidas por grandes transformações. No comportamento social, há avanços, como a solidariedade, o convívio em família e conscientização sobre a importância de hábitos de higiene. O cidadão entendeu que deve fazer escolhas e que elas impactam na sua própria vida e na vida dos outros.
Fedoca: Com certeza, os hábitos vinculados à higiene e ao próprio convívio social sofrerão alterações significativas.
Márcio: Termos mais responsabilidades sobre nossos atos, pensarmos no coletivo e respeitarmos aquilo que nos é orientado são as lições mais importantes que ficarão.
Porque o país está sofrendo tanto tempo com essa pandemia?
Cassina: É uma doença altamente contagiosa e sem tratamento eficaz comprovado, com vacina ainda em estudos. As únicas medidas efetivas de controle são o distanciamento físico, a diminuição da movimentação e o uso de máscara. Algumas pessoas não entenderam essas medidas, aumentando a contaminação e, por consequência, o tempo da pandemia.
Pasin: O mundo todo sofreu com a pandemia, cada um no seu momento. O que me apresenta de forma muito clara é saber se o gestor político se escondeu perante o problema que se apresentava ou ele se colocou à frente da situação. Aqui em Bento fomos pioneiros em diversas ações. Quando o nível de contaminação aumentou, não deixamos nenhum paciente sem atendimento. Um problema gravíssimo que tirou muitas vidas, mas enfrentamos, criamos estrutura, acompanhamos os dados e tivemos uma população que entendeu as necessidades de prevenção e distanciamento.
Fedoca: Por conta de uma incapacidade de lidar com algo novo em face do qual fomos desrespeitosos.