O horário de almoço voltou a movimentar os estabelecimentos que trabalham com bufês em Caxias do Sul. O motivo é que a maioria passou a entregar luvas descartáveis aos clientes para que cada um possa se servir no balcão de refeições. O método está ajudando na volta do público que se afastou não apenas pela pandemia, mas porque não se adaptou a ter um funcionário colocando seu alimento no prato. No entanto, o autosserviço está proibido em decreto estadual.
A reportagem conferiu a situação em seis estabelecimentos nesta sexta-feira. São eles: City Restaurante, Atrium Grill, Bar Copacabana, Boccaccio, Padova e Talharim. Em todos havia distanciamento entre as mesas e não foram observadas filas nos bufês. No entanto, é unanimidade a distribuição de luvas descartáveis. Todos os clientes praticavam o autosserviço. Os proprietários dos estabelecimentos alegaram para a reportagem que esta foi a única maneira encontrada para manter os locais em funcionamento.
— Eu não admito que me sirva. Parei de ir quando estavam me servindo e agora voltei. Gosto de colocar o que eu quero, ainda mais que a comida é a quilo — diz o fiscal de loja Jorge Lopes, 60 anos, ao terminar a refeição por volta das 12h desta sexta-feira (4).
Lopes frequenta o restaurante central Copacabana e está de acordo com a opinião do proprietário, Valmir Bulla, 54 anos.
— Todo mundo estava levando vantagem porque estavam deixando o cliente se servir (outros restaurantes). Estamos tentando sobreviver, mas se a lei vier a gente volta a servir — diz.
Pelas regras do governo, a equipe do local precisa servir o público evitando que muitas pessoas tenham contato com o alimento. O sócio-proprietário do City, Leonardo Graciolli, 33 anos, diz que a prática do autosserviço com o uso de luvas é geral. Antes da nova medida, formavam-se filas porque não havia número suficiente de funcionários para servir a todos. Muitos clientes desistiam porque não tinham tempo de aguardar com o curto intervalo de almoço.
— O pessoal usa máscara, passa álcool gel, coloca luvas. Ficou melhor para todo mundo dessa maneira — afirma.
Cliente do estabelecimento há mais de uma década, o aposentado Ricardo Renan Oliveira, 51, descarta ter problema com o uso de luvas.
— Tenho ido a vários restaurantes no centro e o pessoal está se adequando até que venha a vacina. Me sinto seguro (de se servir nos bufês) porque o pessoal está dando os materiais como o álcool gel e a luva. É uma tranquilidade se servir diretamente — diz.
O proprietário de um estabelecimento da área central, que prefere não se identificar, afirma que a luva traz menos riscos de contágio.
— Se torna até mais higiênico do que ter uma pessoa servindo. Quando a pessoa está com as luvas e com a máscara o risco de contágio é praticamente zero. Cerca de 50% das pessoas que vinham almoçar iam embora quando tínhamos pessoas para servi-los. A alternativa das luvas veio como uma união da categoria. Se não fizéssemos desta forma, 50% dos restaurantes iriam falir — conta.
Segundo ele, a ideia começou há cerca de 20 dias, parte inspirada no formato de funcionamento dos bufês em Santa Catarina.
Vigilância reafirma autuação
O decreto estadual não permite autosserviço dos bufês de acordo com os protocolos do Modelo de Distanciamento Controlado. Segundo o diretor técnico da Vigilância Sanitária em Caxias, Rodrigo Zardo, as punições podem levar a multas.
— Os estabelecimentos que infringirem a legislação estão sujeitos a autuação. Nós, enquanto Vigilância, estamos orientando a fiscalização desde maio. As punições podem ir desde advertência, multa ou, em casos mais graves, interdição do estabelecimento. Qualquer mudança de entendimento deve partir do Estado — afirma Zardo.
O valor mínimo para multa nesses casos é de cerca de R$ 1,7 mil. Zardo informou que já houve autuação de restaurantes na cidade por desrespeitar as normas do decreto estadual: cinco em agosto e um em setembro.
Apesar do alerta da fiscalização, os representantes do setor alegam que passaram a não respeitar a determinação porque estavam ficando desatualizados em relação à concorrência.
— Ficamos dois meses servindo e não veio fiscalização. Fomos conferir e era geral a prática de se servir com as luvas. Decidimos acompanhar — relata a proprietária de um dos restaurantes, que não quis se identificar.