O governador Eduardo Leite (PSDB) apresentou dia 1º de setembro um novo calendário da retomada das aulas. A sugestão do governo é começar pela educação infantil, com retorno das atividades na próxima terça-feira, dia 8. Na sequência, virá o ensino superior e médio, a partir do dia 21, seguido do ensino fundamental (anos finais), em 28 de outubro, e ensino fundamental (anos iniciais), em 12 de novembro. No entanto, o estado está concedendo uma autorização, ou seja, a decisão de retomar as aulas caberá aos municípios.
— Vamos completar seis meses desde que se iniciaram as suspensões de aulas no Estado (em 19 de março). Apresentamos hoje (dia 1º de setembro) à Famurs e aos prefeitos uma projeção de datas para a retirada de restrições para instituições de ensino, para que os pais, os prefeitos e as instituições de ensino possam decidir. Não estamos estabelecendo uma determinação de retorno, mas um levantamento das restrições para que municípios, instituições de ensino e pais possam tomar a decisão de acordo com o nível de risco. Não é um retorno a qualquer custo, não é retorno à normalidade, não é um retorno desorganizado — detalhou Leite, na live de apresentação do cronograma.
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A Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) é contrária à volta às aulas. O presidente da Famurs e prefeito de Taquari, Maneco Hassen, diz que o governo do Estado não está levando em consideração o estágio da pandemia e sequer citou um plano efetivo de testagem.
— O Estado, que deveria ser o primeiro a nos dar segurança, só vai retornar daqui 45 dias. Nós, municípios, teremos que fazer o experimento, o teste e correr o risco de ter alunos contaminados, enquanto que o Estado espera e, se tudo der certo, voltar em 45 dias. Mais uma vez a responsabilidade fica com os prefeitos e prefeitas. Se é para voltar, que Estado e municípios voltem ao mesmo tempo. É uma injustiça fazer com que prefeitos e prefeitas tenham essa responsabilidade em um ano de eleição e sofram pressão dos pais — argumenta Hassen.
A prefeitura de Caxias do Sul, definiu na terça-feira, dia 1º de setembro, em uma reunião do Gabinete de Crise, que vai aderir à volta às aulas no dia 8, a começar pela educação infantil, mas apenas da rede particular. Estiveram presentes na reunião o vice-prefeito Edio Elói Frizzo, a chefe de Gabinete e secretária de Governo, Grégora Fortuna dos Passos, o secretário da Saúde, Dr. Jorge Olavo Hahn Castro, a secretária da Educação, Flávia Vergani, o secretário do Urbanismo, João Uez e Fernando Pelisson, médico da SMS.
— É um momento muito delicado e difícil, por isso, a nossa tomada de decisão também é delicada e difícil. Mas vamos seguir a orientação do governo do Estado e voltar com as aulas presenciais da educação infantil, mas apenas da rede particular. Na sequência vamos analisar o restante do cronograma indicado pelo governador. Não podemos colapsar a saúde, porque Caxias vem dando conta do planejamento de preservar vidas — explica Flávia Vergani, secretária da Educação.
As escolas infantis da rede privada que desejam voltar devem ter seu protocolo aprovado pelo Centro de Operações de Emergência (COE), formado pelas secretarias do Urbanismo, Educação e Saúde. Foram protocolados (até o dia 1º) mais de 140 projetos, sendo que 27 já foram aprovados. Ou seja, as instituições aprovadas, da rede privada, podem voltas às aulas de forma presencial no dia 8.
— Os pais que não se sentem seguros terão a liberdade de escolher se vão levar ou não seus filhos à escola. É natural que todos estão agindo com cautela, e queremos fazer a reabertura com todo o cuidado para que todos tenham segurança. Nós, da prefeitura, estaremos fazendo um monitoramento de perto para avaliar se as escolas estão colocando o protocolo em prática. Porque vai depender da avaliação de como se dará esse retorno da escola infantil, a nossa definição pelo restante do calendário — justifica Flávia.
Depoimentos a favor da volta às aulas
"Estamos confiantes de que as aulas em escolas infantis retornem em Caxias, com planos de contingência. Será um desafio, mas temos, sim, condições de receber as crianças com segurança. Na parte pedagógica vai mudar muito com as aulas presenciais porque as crianças tem o educador como uma referência. É importante lembrar de que faremos nosso melhor, mas as famílias também precisam se cuidar, sem ficar circulando sem necessidade, porque o vírus está em todos os cantos. Além disso, o cenário é preocupante para o nosso setor, porque das 180 escolas infantis, sabemos que pelo menos 20 já fecharam. Enquanto isso, aumentou o mercado clandestino, com pessoas cuidando de crianças em casa, sem as mínimas condições."
Christiane Welter Pereira, presidente do Sindicato das Instituições Pré Escolares Particulares de Caxias do Sul (Sinpré)
"Não tem porque estar contra. É autorizativo. Se eu entender que meu município não tem condições de voltar, ou os pais não quiserem, tenho liberdade para definir. Sei que na nossa região, todos os planos estão praticamente prontos para voltar dia 14".
José Carlos Breda, presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne)
"Sou a favor do retorno às aulas. Mantive contato frequente com a escola São Carlos, participando de reuniões, e sei que desde junho ela está preparada para a volta às aulas presenciais. É visível o empenho dos professores em fazer com que as aulas aconteçam mesmo que de forma online, mas a qualidade fica abaixo do que seria uma aula presencial. Tenho uma empresa com meu marido, mas este ano abortei o trabalho para ficar com os meus filhos, porque não tenho como quem deixá-los. Para mim não vai mudar em nada com relação ao vírus especificamente. O que acontece em 2020 vai continuar acontecendo em 2021. Em algum momento vamos precisar nos expor, e as crianças vão precisar ter contato umas com as outras. Até porque, acredito e confio que a escola está pronta para receber os alunos" .
Aline Dambros, mãe de duas crianças do Ensino Fundamental
"É importante dizer que a rede privada está desde junho se preparando, quando foram preparados os nossos protocolos para a volta. Agora vai caber às escolas que se organizem com os últimos preparativos para receber os alunos. Estamos satisfeitos em dizer que vamos voltar com a maior segurança possível, pensando na preservação da vida. Quando os primeiros alunos retornarem e os pais verem que nada está ocorrendo, esse medo de levar os filhos para a escola vai passar. Entendemos que tenha uma insegurança, mas quando verem as salas organizadas, a medição da temperatura, enfim, toda a organização, tenho convicção de que até as famílias mais reticentes vão levar seus filhos para a escola".
Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS)
Depoimentos contra a volta às aulas
"O Estado, que deveria ser o primeiro a nos dar segurança, só vai retornar daqui 45 dias. Nós, municípios, teremos que fazer o experimento, o teste e correr o risco de ter alunos contaminados, enquanto o Estado espera e, se tudo der certo, voltar em 45 dias. Mais uma vez a responsabilidade fica com os prefeitos e prefeitas. Se é para voltar, que Estado e municípios voltem ao mesmo tempo".
Maneco Hassen, presidente da Famurs e prefeito de Taquari
"Nós entendemos que é um absurdo o que o governo do Estado está propondo. Não temos testagem, não tem perspectiva de vacina imediata, a curva de contágio ainda não é fortemente descendente, e a todo instantes temos casos de surto. Municípios que voltaram, sem condições, como o caso de Manaus, tiveram alta contaminação. É um absurdo o governo insistir nisso. O governo do Estado não banca as estruturas mínimas necessárias ao longo do ano, imagina agora. Será que vai ter como contratar de 6 a 8 mil funcionários para fazer a sanitização das escolas? E será que vai ter dinheiro para comprar as máscaras para os professores e alunos? E o professor que for do grupo de risco? Vai preparar duas aulas? Uma para dar em forma virtual e, a outra, para um colega dar aula presencial? A escola é um ambiente de socialização. Mesmo com adolescentes vai ser difícil fazer com que eles se mantenham distantes uns dos outros. Quem vai ser o responsável se aumentarem os contágios? Fico pesando, quanto vale uma vida!".
Solange Carvalho, primeira vice-presidente Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS)