A volta às aulas presenciais na Educação Infantil gerou reação contrária da Sociedade Riograndense de Infectologia. Em nota na terça-feira (8), a entidade médica lembrou que as taxas de contaminação no Estado estão elevadas, acima do país. A posição foi corroborada pela infectologista Lessandra Michelin, que trabalha em Caxias do Sul, em entrevista ao Gaúcha Hoje da rádio Gaúcha Serra nesta quarta-feira (9).
A doutora em Biotecnologia diz que há países onde o retorno das atividades escolares não impactou o sistema de saúde, mas outros em que isso ocorreu. Embora normalmente as crianças não tenham complicações do quadro de saúde na infecção por coronavírus, Lessandra salienta que elas podem ser infectadas. Com isso, há tanto o risco de disseminação da doença quanto de eventual agravamento na própria criança. A médica, que integra a direção da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que a projeção era de diminuição da contaminação em setembro:
— Nós vínhamos com pouco número de casos desde março, abril. A gente tinha uma ascensão. Ela chegou no auge, parece, entre julho e agosto. E agora nós estamos com uma diminuição. Mas ainda não dá para dizer que estamos seguros, porque esse vírus, assim como a influenza, não acomete todas as pessoas. Então, provavelmente até o restante do ano, nós teremos ainda casos novos — afirmou.
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De acordo com Lessandra, ainda não é possível prever o melhor momento de retorno às aulas:
— Essa resposta a gente ainda não tem, porque nós não temos tratamento, não temos vacina. Ainda assim, temos que lembrar que essa vacina não viria neste ano. Ela é uma vacina em teste rápido. Tudo está acontecendo muito rápido. Então, a gente está tendo uma aceleração de todos os processos. Com isso, a gente precisa ter o dobro de cuidado, que é o que está acontecendo com a vacina de Oxford, por exemplo — comenta, ao mencionar a suspensão dos testes de uma das vacinas devido à reação adversa constatada em um participante do estudo.
A infectologista, que também é assessora técnica do Ministério da Saúde, conta que já se iniciaram os debates sobre a estratégia de aplicação da vacina, porque não haverá disponibilidade para toda a população em um primeiro momento.
Ameaças
A médica, que já se posicionou contrária ao uso da cloroquina no tratamento da covid-19 por falta de evidência científica de efetividade do medicamento, contou que ela e outros médicos chegaram a ser ameaçados por negar o uso do remédio no tratamento da doença.
— Ameaças não eram presenciais. Sempre eram por telefone e redes sociais, principalmente por redes sociais, com xingamentos, algumas situações bem desagradáveis — relatou.
Ouça a entrevista na íntegra: