As portas da OUT, uma clínica LGBTQ em Joanesburgo, estão fechadas há mais de uma semana e seus serviços de prevenção e tratamento do HIV para 6.000 pacientes continuam suspensos, uma situação que se repete em outros centros que tratam pacientes com aids.
As luzes também se apagaram no projeto HIV da Universidade de Witwatersrand, líder em serviços para profissionais do sexo na África do Sul, país com uma das maiores populações soropositivas do mundo.
Estas são algumas das muitas clínicas de HIV/aids na África do Sul que lutam para sobreviver desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, congelou a ajuda externa por 90 dias.
"Espero que a curto prazo entre algum dinheiro para que a médio e longo prazo possamos fazer outros planos", disse Dawie Nel, diretor da OUT, cuja clínica em Joanesburgo colocou uma placa na entrada anunciando que está "temporariamente fechada".
A África do Sul é um dos maiores beneficiários de financiamento do programa americano de resposta ao HIV/aids PEPFAR, lançado em 2003 e interrompido pelo congelamento.
O PEPFAR fornece 17% do orçamento da África do Sul para o HIV e garante que cerca de 5,5 milhões de pessoas recebam tratamento antirretroviral, segundo o Ministério da Saúde.
"Os Estados Unidos são um parceiro pouco confiável", lamentou Nel. "O sistema é muito volátil e caótico", acrescentou.
Os serviços de saúde mental e testes da OUT identificam de quatro a cinco casos de HIV por dia, além de outras doenças sexualmente transmissíveis, disse Nel.
A clínica contava com 2 milhões de dólares (11,73 milhões de reais) em financiamento dos EUA para operar até setembro, fornecendo tratamento para HIV a 2.000 pessoas e o medicamento preventivo PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) a outros 4.000 usuários.
- Retrocesso -
Cerca de 14% dos sul-africanos - cerca de 8,45 milhões de pessoas - eram positivas para HIV em 2022, segundo dados do governo, uma das taxas mais altas do mundo.
O país tem um dos maiores programas de tratamento de HIV do mundo, após uma lenta resposta inicial à crise da aids, que tirou mais de 2,5 milhões de vidas.
"Congelar o PEPFAR será um retrocesso para a África do Sul e para o mundo em termos do progresso feito em nossa resposta ao HIV", disse Anele Yawa, da 'Treatment Action Campaign', em um comunicado.
"As pessoas ficarão sem prevenção, tratamento e cuidado", alertou.
Desde que o congelamento foi anunciado, uma exceção foi feita para ajuda humanitária, incluindo tratamentos vitais, mas muitas organizações não têm certeza se estarão incluídas.
O Instituto de Saúde Reprodutiva e HIV da Universidade Wits, na África do Sul, publicou no Facebook que suas clínicas para profissionais do sexo e pessoas transgênero estariam "fechadas até novo aviso".
O governo sul-africano prometeu cobrir a diferença no financiamento para HIV mediante uma redistribuição orçamentária.
* AFP