A Venezuela estava em alerta, nesta quarta-feira (8), devido aos protestos convocados pela oposição e às denúncias sobre a prisão de líderes e ativistas, dois dias antes da posse do presidente Nicolas Maduro para um terceiro mandato consecutivo.
A oposição, liderada por María Corina Machado, acusa Maduro de "roubar" as eleições de 28 de julho e convocou manifestações para quinta-feira em todo o país a favor de Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória nessas eleições.
O partido no poder também se manifestará nesse dia.
As principais avenidas do centro de Caracas, onde estão localizados os poderes públicos, foram ocupadas desde a semana passada por centenas de agentes de segurança fortemente armados. Na véspera, Maduro anunciou a ativação de um plano de "defesa" para garantir "o que será uma vitória exemplar".
"Estou aqui pela vontade de Deus todo-poderoso, pela vontade do nosso povo", disse Maduro na televisão estatal.
O Parlamento, controlado pelo chavismo, o convocou para prestar juramento no dia 10 de janeiro ao meio-dia, dia em que o governante de esquerda pediu aos seus apoiadores que "saiam às ruas aos milhões".
González realiza uma viagem internacional que o levou à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se reuniu com Joe Biden, representantes do Congresso e membros da equipe do presidente eleito, Donald Trump. Agora ele está no Panamá, onde foi recebido pelo presidente panamenho, José Raúl Mulino.
- Detenções -
Machado, na clandestinidade após ameaças de prisão, promete liderar a manifestação de quinta-feira em Caracas. Sua última aparição pública foi em 28 de agosto.
"Eu não perderia por nada nesse mundo esse dia histórico", disse ela na segunda-feira em entrevista à AFP.
Haverá quatro pontos de concentração na capital, mas o ponto de partida não foi revelado.
Diosdado Cabello, ministro do Interior e número dois do partido no poder depois de Maduro, convocou paralelamente o chavismo a marchar pelo leste de Caracas, em um trajeto que a oposição costuma percorrer em suas manifestações.
A convocação da oposição aos protestos está condicionada pela dura repressão às manifestações que eclodiram depois de as autoridades eleitorais proclamarem a reeleição de Maduro, que deixou 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos em apenas 48 horas. Três dos detidos morreram na prisão.
Desde a noite de terça-feira foram registradas pelo menos uma dezena de detenções. Entre elas, Carlos Correa, um conhecido ativista dedicado à defesa da liberdade de expressão, e Enrique Márquez, um candidato minoritário da oposição nas eleições presidenciais que contestou, sem sucesso, a validação da reeleição de Maduro pela Suprema Corte.
Mais cedo neste dia, González denunciou o "sequestro" de seu genro, Rafael Tudares, enquanto ele levava seus filhos à escola.
O Ministério Público ainda não se pronunciou sobre estes casos.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, pediu a libertação dos detidos e afirmou que não comparecerá à cerimônia de posse de Maduro.
"Não podemos reconhecer eleições que não foram livres", escreveu ele no X.
Outros países latino-americanos, bem como os Estados Unidos e a União Europeia, também rejeitaram o resultado oficial.
- "Avião invasor"? -
Após seu encontro privado com Mulino, González tem prevista uma reunião com diversos chanceleres da América Latina, antes de viajar para a República Dominicana.
Ele pondera pegar um avião para Caracas com um grupo de ex-presidentes latino-americanos que o apoiam com o objetivo de assumir o poder no lugar de Maduro.
"Essa aeronave, esses tripulantes, a tripulação e os passageiros, devem ser tratados como uma força estrangeira que tenta invadir", alertou o presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez.
No último domingo, González pediu aos militares que o reconhecessem como "comandante-em-chefe", mas o alto comando da Força Armada rejeitou o apelo com "profunda indignação" e jurou "lealdade, obediência e subordinação" a Maduro.
* AFP