A partir desta quarta-feira (22), o Museu do Louvre, em Paris, apresentará uma exposição inédita dedicada ao artista italiano Cimabue (por volta de 1240-1302), que revolucionou a pintura ocidental e abriu caminho para o naturalismo, mas cuja biografia permanece incompleta.
Intitulada "Revisitando Cimabue. Nas origens da pintura italiana", ela inclui cerca de quarenta obras, incluindo pinturas, algumas das quais foram restauradas em suas molduras originais para esta ocasião, e manuscritos iluminados raros.
Por meio de um itinerário temático, a exposição destaca a novidade de sua maneira de pintar entre 1280 e 1290: ao tentar sugerir um espaço tridimensional, o realismo dos corpos e objetos de seu tempo, até então inexistente, rompe radicalmente com as convenções de representação herdadas da arte oriental, em particular dos ícones bizantinos.
As pinturas de Cimabue são comparadas a alguns de seus predecessores e sucessores, incluindo Giotto e Duccio di Buoninsegna, de quem ele foi mestre e que se inspiraram em sua sagacidade narrativa.
Muitas delas foram emprestadas da Itália.
- Redescoberta -
Duas pinturas, cuja restauração foi concluída no final de 2024, são o foco da exposição.
A primeira, a "Maestà", uma Madonna e Criança monumental, que chegou à França após a invasão napoleônica e acabou sendo cedida pela Itália.
A obra tem sido frequentemente descrita como "a certidão de nascimento da pintura ocidental" devido à humanização das figuras sagradas e à pesquisa ilusionista do pintor, particularmente na representação do espaço com o trono visto de lado.
Sua restauração deu "a oportunidade de descobrir detalhes nunca antes vistos, inclusive a sutileza das cores, incluindo o brilho luminoso dos azuis, todos pintados em lápis-lazúli, e fragmentos de escrita árabe", explica Thomas Bohl, curador do departamento de pinturas e curador da exposição.
Cimabue foi um dos primeiros artistas europeus a se interessar pela caligrafia árabe.
A segunda pintura importante é o "Cristo zombado", uma pequena imagem que narra uma passagem da vida de Jesus enquanto ele é zombado antes de ser açoitado, adquirida em 2023.
Ela foi redescoberta na França em uma casa particular em 2019 e classificada como Tesouro Nacional.
Ele faz parte de um díptico do qual o Louvre está reunindo pela primeira vez os três únicos painéis conhecidos até o momento. Os outros dois foram emprestados pela National Gallery, em Londres, e pela Frick Collection, em Nova York.
"Cimabue ancora a composição na vida cotidiana de seu tempo, ousando vestir as figuras com as roupas da época. Isso ecoa as preocupações dos franciscanos, promotores de uma espiritualidade mais interiorizada e imediata", explica o curador.
- Dante -
Cenni di Pepo, conhecido como Cimabue, permaneceu por muito tempo como um pintor misterioso que fascinou poetas, artistas, colecionadores e historiadores da arte por sete séculos.
Sabe-se muito pouco sobre sua vida, como nos lembra o prólogo da exposição.
Até mesmo o significado de seu apelido é desconhecido, e apenas alguns documentos de arquivo nos permitem identificar o artista e fornecem alguns pontos de referência sobre sua carreira.
"É Dante, em uma passagem de 'A Divina Comédia', que forja o mito no início do século XIV: ao estabelecer sua importância, ele está na origem do fascínio que o nome de Cimabue exercerá desde os Médici até os dias de hoje", ressalta Bohl.
"Florença, Assis, Pisa: sabemos, no entanto, que ele trabalhou nas maiores igrejas da Itália e que alcançou uma fama extraordinária", acrescenta.
A exposição termina com a apresentação do grande "São Francisco de Assis recebendo os estigmas", de Giotto.
* AFP