As gangues poderiam assumir o controle total de Porto Príncipe, capital do Haiti, se a comunidade internacional não aumentar seu apoio às autoridades locais, alertou, nesta quarta-feira (22), o secretário-geral da ONU, António Guterres.
"Qualquer atraso ou lacuna operacional na prestação de apoio internacional na questão de segurança à polícia (...) acarreta o risco de um colapso catastrófico das instituições nacionais de segurança", advertiu Guterres em um informe.
No texto, o secretário-geral assinala que "isto permitiria que as gangues invadam toda a região metropolitana, o que provocaria um colapso total da autoridade do Estado e tornaria insustentáveis as operações internacionais no país".
A Missão Multinacional de Apoio à Segurança "ainda não está plenamente implantada. Sua capacidade operacional para apoiar a polícia nacional é, portanto, limitada", destaca o relatório, que pede um reforço "imediato" de pessoal, equipamentos e financiamento.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro de 2023 essa missão liderada pelo Quênia para apoiar a polícia local, que está sobrecarregada pela violência das gangues.
Até agora, foram mobilizados 600 policiais dos 2.500 prometidos pelo presidente queniano, William Ruto.
De acordo com a ONU, as gangues já controlam 85% da capital, espalhando terror e morte.
Segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pelo menos 5.601 pessoas foram assassinadas no pobre país caribenho no ano passado, 1 mil a mais do que em 2023.
Em seu relatório, António Guterres lamenta também os "fracassos do processo político", que "contribuíram para criar um clima que possibilitou essas atrocidades".
"É possível que o país não consiga adotar as medidas previstas no acordo de governança alcançado em 11 de março de 2024. Em outras palavras, o objetivo de restaurar as instituições democráticas até fevereiro de 2026 está em risco", afirmou.
Sob pressão dos ataques coordenados das gangues, o então primeiro-ministro Ariel Henry renunciou em março de 2024, deixando o país sob o comando de autoridades de transição.
Mais de um milhão de pessoas foram deslocadas internamente no país devido à violência das impiedosas gangues, três vezes mais do que no ano anterior, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
* AFP