Estados Unidos e Reino Unido anunciaram nesta sexta-feira (10) novas sanções contra o setor energético russo, que Moscou dribla desde que invadiu a Ucrânia recorrendo a navios-petroleiros de propriedade obscura ou que operam sem um seguro adequado.
As sanções anunciadas hoje afetam a empresa de petróleo russa Gazprom Neft, filial da gigante estatal Gazprom, e cerca de 200 petroleiros e outros navios que operam a partir da Rússia, considerados parte de uma "frota fantasma" de Moscou para driblar as sanções ocidentais.
- O que é uma 'frota fantasma'? -
O governo do Reino Unido a define como os navios que participam de operações ilegais para driblar as sanções, as normas de segurança ou ambientais ou evitar o custo dos seguros. Conhecidos como "shadow fleet", ou "dark fleet", esses tipos de embarcação já existiam antes da guerra na Ucrânia, e eram usados principalmente por Irã e Venezuela, países sob sanções dos Estados Unidos.
Desde o começo da invasão russa à Ucrânia, há quase três anos, "a frota fantasma, que transportava principalmente mercadorias com origem e destino em Irã e Venezuela, aumentou exponencialmente", segundo o centro de estudos americano Atlantic Council, que estima que 17% dos petroleiros russos façam parte dessa frota, que inclui outros navios mercantes.
- Por que a Rússia recorre a esses navios? -
O governo de Vladimir Putin enfrenta uma série de sanções contra o setor de energia, incluindo um embargo, um teto para o preço do petróleo bruto russo e uma proibição de prestar serviços que permitam o transporte marítimo de petróleo, restrições que têm como objetivo cortar a receita das exportações de petróleo, que são vitais para a Rússia, principalmente para financiar a guerra na Ucrânia.
Para superá-las, o governo russo precisou reduzir sua dependência dos serviços marítimos ocidentais por meio da compra de navios-petroleiros, aos quais o país oferece seus próprios serviços de seguro. "Esses petroleiros representam 90% das exportações de petróleo bruto e 36% das remessas de produtos petrolíferos" da Rússia, segundo o Instituto KSE da Escola de Economia de Kiev, e permitem ao país contornar o teto de US$ 60 (R$ 366) por barril e financiar a guerra na Ucrânia.
A mesma fonte informou que 196 navios carregados de petróleo bruto "zarparam dos portos russos em novembro" passado.
- Riscos -
O Instituto KSE faz alertas regulares sobre "os riscos ambientais enormes para a União Europeia" que esses navios de mais de 20 anos representam. No começo de 2024, o Atlantic Council estimou que eles vão representar 11% da frota mundial de petroleiros em 2025, contra 3% antes da guerra na Ucrânia.
Os navios fantasma não contam com o seguro "P&I", obrigatório para embarcações comerciais, para cobrir riscos que vão desde aqueles relacionados com conflitos bélicos até colisões ou danos ambientais, como vazamentos de petróleo.
Entre 90% e 95% do mercado de seguros gerais está nas mãos de empresas da União Europeia e do Reino Unido, que aplicam sanções contra a Rússia. "Os outros tipos de seguro, como os esquemas alternativos propostos pelos governos de Rússia e Irã, são insuficientes", o que torna o trabalho a bordo "extremamente perigoso", advertiu Elisabeth Braw, especialista do Atlantic Council.
* AFP