Em um pasto no condado de Devon, no sudoeste da Inglaterra, Adam Stanbury está preocupado com o novo imposto agrícola estabelecido pelo governo trabalhista britânico, que pode colocar em risco sua fazenda e muitas outras.
Tudo isso em um contexto já difícil para os agricultores do Reino Unido.
No mês passado, esse fazendeiro de 55 anos, a terceira geração que cultiva essas terras perto da cidade de Barnstaple, conduziu seu trator até Londres para protestar junto com outras centenas de agricultores.
"Parecíamos peixes fora d'água (...) mas tínhamos que fazer algo", explica à AFP, enquanto um trabalhador da fazenda leva vacas para serem ordenhadas. Novas concentrações ocorreram neste sábado (25) em todo o país.
Em um contexto orçamentário apertado, o governo trabalhista de Keir Starmer anunciou há alguns meses que certas propriedades não estarão mais isentas do imposto sobre herança, uma antiga exceção que supostamente facilita a transferência das fazendas.
A partir de abril de 2026, a isenção terá um limite de 1 milhão de libras esterlinas (R$ 7,35 milhões), e acima desse valor será aplicado um imposto de 20% (metade da taxa padrão).
Adam, com suas 400 vacas leiteiras e cerca de 350 mais jovens, suas máquinas e veículos, seus 240 hectares de terra e sua casa, embora modesta, ultrapassa amplamente esse limite.
O agricultor estima que, após sua morte, suas três filhas terão que pagar pelo menos 400.000 libras (R$ 2,94 milhões) em imposto de sucessão.
- "A gota d'água" -
Por enquanto, se Lucy, sua filha mais velha, de 16 anos, ajuda regularmente na fazenda, ela não se vê necessariamente se tornando criadora. Mas Adam gostaria de oferecer às filhas essa "oportunidade", sem que seja um "peso" financeiro.
Para evitar o imposto, ele terá que passar a fazenda para suas filhas enquanto ainda estiver vivo, mas os trâmites são complexos. E, mesmo assim, ele se considera relativamente sortudo, porque, apesar dos inúmeros empréstimos que precisa pagar, sua produção de cerca de 3,4 milhões de litros de leite orgânico é lucrativa.
Mas no Reino Unido, 17% das fazendas não auferiram lucros em 2023. E apenas 41% obteve mais de 50.000 libras (R$ 368 mil) de lucro, segundo dados do Ministério da Agricultura.
O imposto é "a gota d'água", afirma Adam. O governo garante que sua medida afetará apenas as propriedades maiores e aquelas que compraram terras por motivos fiscais, o que também aumentará o preço das terras agrícolas.
Das fazendas que se beneficiam das isenções atuais, "menos da metade dos proprietários conseguiram rendimentos provenientes da agricultura nos cinco anos anteriores à sua morte" e a maioria das outras não eram diretamente de agricultores, segundo o economista Arun Advani.
Mas essa avaliação é questionada pelos sindicatos agrícolas, que acreditam que muitas outras fazendas serão afetadas. "Se tivermos que vender um terreno ou uma propriedade (...) para onde essa terra irá? Será comprada por uma multinacional que pode pagar por ela", alerta Adam.
Para ele, "os agricultores não querem necessariamente mais ajuda, querem ser considerados".
* AFP