A vice-presidente e ministra da Transição Ecológica da Espanha, Teresa Ribera, defendeu nesta quarta-feira (20) as ações dos serviços públicos dependentes do governo nas enchentes, em meio a críticas ao governo regional de Valência por sua gestão da catástrofe.
A presença de Teresa Ribera no Congresso dos Deputados era aguardada com ansiedade, pois a direita espanhola estava tentando bloquear sua nomeação como vice-presidente para Transição Limpa na nova Comissão Europeia, que está paralisada pela direita espanhola, que questiona sua forma de lidar com a catástrofe, algo que, no final das contas, não parece que irá acontecer.
No Parlamento, Ribera defendeu o trabalho de duas entidades ligadas ao seu Ministério, a agência meteorológica estatal (Aemet) e a Confederação Hidrográfica do (rio) Júcar, que emitiram avisos e alertas antes e durante a tragédia que deixou 227 mortos, quase todos na região de Valência.
"Quero agradecer aqui ao trabalho e à dedicação dos funcionários públicos que emitiram as informações, como era seu dever", disse Ribera, considerando "profundamente injusto e perigoso" colocar em dúvida o trabalho deles.
Desde as enchentes, que deixaram áreas devastadas, onde os esforços de limpeza e a busca por desaparecidos ainda estão em andamento, o governo do socialista Pedro Sánchez e o governo regional de Valência de Carlos Mazón, do conservador Partido Popular (PP), entraram em conflito sobre como a crise foi tratada.
Na Espanha, um país altamente descentralizado, a gestão de desastres é de responsabilidade das administrações regionais, mas o governo central pode fornecer recursos e até mesmo assumir a gestão em casos extremos.
Mazón, muito criticado pela forma como lidou com a tragédia, admitiu na sexta-feira que houve "falhas", mas criticou a gestão da Aemet e da Confederação Hidrográfica do Júcar, que ele acusou de "um apagão de informações" de duas horas enquanto as enchentes estavam subindo.
"Nunca houve um apagão de informações", respondeu Ribera, que contou as dezenas de avisos enviados pelos dois órgãos públicos às autoridades da região de Valência.
"Estivemos disponíveis antes, durante e depois (da tragédia) e vamos continuar disponíveis, trabalhando com Valência", garantiu.
"A experiência mostra que o alerta antecipado indica a capacidade real de lidar com chuvas intensas e inundações repentinas", como aconteceu em 29 de outubro, mas 'é de pouca utilidade ter todas as informações necessárias se aqueles que têm de responder não sabem como fazê-lo", acrescentou Ribera, em uma reprovação a Mazón.
"Infelizmente, no novo cenário climático, a previsão é de que episódios dessa magnitude deixarão de ser excepcionais e passarão a ocorrer com mais frequência", disse Ribera.
No entanto, nesta mesma quarta-feira, fontes dos três grupos disseram que a direita, o centro e os social-democratas europeus chegaram a um acordo político para aprovar a nova equipe da Comissão Europeia, incluindo Ribera.
O Parlamento Europeu votará em 27 de novembro em Estrasburgo, e o novo Executivo europeu, presidido por Ursula von der Leyen, tomará posse em 1º de dezembro.
Pedro Sánchez se alinhou com sua ministra e criticou a posição do PP.
"O Partido Popular na Espanha (...) leva sistematicamente todos os debates sobre políticas nacionais para Bruxelas (...) Há uma descrença absoluta na Europa, e não apenas na família social-democrata, sobre essa atitude", disse Sánchez no Rio de Janeiro, onde participou da Cúpula do G20.
* AFP