A França iniciou, nesta segunda-feira (17), a campanha das eleições legislativas antecipadas pelo presidente Emmanuel Macron, com o objetivo de travar a extrema direita em posição de força, mas que pode resultar em um desastre para sua aliança de centro.
Macron surpreendeu o país com a antecipação das eleições, apenas uma hora após o fechamento dos locais de votação, em 9 de junho, das eleições para o Parlamento Europeu, nas quais o partido de ultradireita Reagrupamento Nacional (RN) recebeu 31,37% dos votos na França.
O RN conta com 33% das intenções de voto, seguido da coalização de esquerda Nova Frente Popular (28%) e da aliança centrista de Macron (18%) nas legislativas que vão ocorrer em 30 de junho e 7 de julho, segundo uma pesquisa do Ifop publicada nesta segunda-feira.
Os números apontam um cenário incerto, com um reequilíbrio dos três blocos que surgiram nas eleições de 2022, o que poderá levar o presidente, cujo mandato termina em 2027, a ser obrigado a dividir o poder com um governo de outra tendência política.
Diante da perspectiva de chegada ao poder do RN, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram no fim de semana e mais de 200 atletas chamaram, em uma publicação no jornal L'Equipe, a votar contra uma extrema direita que "manipula" os medos para "dividir".
"Vemos que os extremismos estão às portas do poder, temos a oportunidade de decidir o futuro do nosso país", declarou no domingo o astro Kylian Mbappé, uma declaração que foi celebrada pela ministra dos Esportes, Amélie Oudea-Castéra.
O Ministério do Interior indicou que em uma semana expediu cerca de 410.000 autorizações para que aquelas pessoas que não possam ir votar cedam seu voto a alguém de sua escolha, seis vezes e meia mais que durante o mesmo período das legislativas de 2022. O segundo turno coincide com o início das férias escolares de verão.
Com a possibilidade de vitória cada vez mais próxima, o RN tenta tranquilizar os eleitores. "Não é necessário ter medo. Nosso partido é como qualquer outro (...) As pessoas não devem acreditar que tudo vai desmoronar", declarou o vice-presidente da legenda, Sébastien Chenu.
A líder da extrema direita, Marine Le Pen, conseguiu moderar a imagem do partido anti-imigração aos olhos do eleitorado, afastando o RN de sua versão inicial, a Frente Nacional, fundada em 1972 por seu pai, Jean-Marie Le Pen, conhecido pelos comentários racistas e antissemitas. Temas como poder aquisitivo, insegurança e imigração ganharam destaque.
O deputado Jean-Philippe Tanguy, do RN, anunciou que o partido revogaria no próximo outono a impopular reforma previdenciária de Macron, após o candidato a primeiro-ministro Jordan Bardella ter considerado recentemente que o assunto não era "prioridade".
Para as eleições legislativas antecipadas, o RN conseguiu o apoio do presidente do partido Os Republicanos (LR), Éric Ciotti, cuja proposta de "aliança" provocou um racha no partido que já governou o país com Charles de Gaulle, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.
- Acordos e divergências -
O medo de um governo de extrema direita obrigou a oposição de esquerda a superar as divergências e voltar a estabelecer uma aliança com a Nova Frente Popular, que reúne de social-democratas como o ex-presidente François Hollande até candidatos anticapitalistas.
Mas o seu principal desafio é superar a crise aberta com a decisão do partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) de destituir cinco deputados críticos ao líder da legenda, Jean-Luc Mélenchon, e reintegrar um candidato condenado por violência conjugal.
Este último, Adrien Quatennens, renunciou à candidatura, enquanto quatro dos cinco afastados pelo partido decidiram manter suas aspirações contra os novos candidatos da LFI e receberam apoio de aliados socialistas, comunistas e ecologistas.
A aliança centrista de Macron procura posicionar-se como a alternativa contra os "extremos" - em referência ao RN e à LFI - que, segundo o primeiro-ministro Gabriel Attal, representariam um risco de "catástrofe para a economia e os empregos".
Para evitar um colapso eleitoral, a aliança governista "Juntos pela República" apresentou candidaturas em 489 das 577 circunscrições uninominais francesas e alcançaram acordos pontuais de não agressão com candidatos do LR anti-Ciotti.
Os acordos aumentam a incerteza do resultado a duas semanas do primeiro turno das eleições, que também contarão com candidaturas dissidentes na esquerda e 62 candidatos "conjuntos" do RN com o LR pró-Ciotti.
* AFP