A oposição da Coreia do Sul venceu as eleições legislativas e aumentou seu número de deputados no Parlamento, de acordo com a contagem praticamente final dos votos, em um golpe para o presidente Yoon Suk Yeol e sua agenda conservadora.
Após a contagem quase completa dos votos, o Partido Democrático (PD), de oposição e centro-esquerda, ganharia 176 dos 300 assentos da Assembleia Nacional unicameral, informou a agência de notícias Yonhap nesta quinta-feira (11, noite de quarta em Brasília).
O partido, de orientação liberal, tinha 156 assentos com seus aliados antes das eleições, consideradas como um referendo sobre a gestão do presidente Yoon.
No entanto, a contagem parcial indica que a formação de Yoon, o Partido Poder Popular (PPP), manteria assentos suficientes para evitar uma supermaioria liderada pela oposição, o que poderia abrir caminho para sua destituição.
O PPP obteve 90 assentos e parecia estar a caminho de conseguir 109 junto com seu partido aliado.
O recém-fundado partido Reconstruindo Coreia, do ex-ministro da Justiça Cho Kuk e que poderia se aliar ao PD, obteria entre 12 e 14 assentos.
Havia um clima sombrio entre os legisladores do partido do governo ao saberem dos resultados da pesquisa, enquanto os membros do PD receberam a notícia com aplausos e gritos.
O resultado representa um golpe para Yoon, que, segundo analistas, ficaria enfraquecido para os dois anos restantes de seu mandato e sem capacidade de impulsionar medidas conservadoras.
Yoon venceu as eleições presidenciais de 2022 por uma margem estreita frente ao líder do PD, Lee Jae-myung, que foi ferido em um ataque com arma branca há três meses.
- Presidente impopular -
No poder, Yoon adotou uma política de firmeza em relação à Coreia do Norte, reforçando sua aliança com os Estados Unidos e se aproximando do Japão, antiga potência colonial com a qual a Coreia do Sul ainda mantém disputas históricas.
Mas desde o início ele foi um presidente impopular, com uma aprovação frequentemente abaixo de 30%.
Sua impopularidade se deve à "ausência de progressos reais nas questões políticas e econômicas internas", explicou Andrew Yeo, cientista político da Universidade Católica da América, à AFP.
"Os preços e a inflação continuam altos, a moradia é cara e a polarização política continua alta", disse ele.
Jeremiah Shim, um pastor de 40 anos, explicou que os fiéis de sua congregação estão cada vez mais tendo dificuldades para chegar ao final do mês devido ao aumento dos preços dos alimentos.
"Muitas pessoas não estão em uma situação econômica fácil. Muitos estão com problemas. Muitos desejam uma mudança nessas eleições", disse o religioso.
O tom da campanha também afastou muitos eleitores, com pouco debate político e muitas declarações estridentes, tudo acompanhado por uma onda de discursos de ódio e desinformação que, segundo os especialistas, podem levar a mais ataques como o sofrido pelo opositor Lee em janeiro.
Antes da votação, o líder do novo partido Reconstruindo Coreia antecipou que seu plano era enfraquecer o poder de Yoon.
"Vou fazer do presidente Yoon um pato manco, e depois um pato morto", disse o ex-ministro Cho Kuk à AFP este mês.
Lee, de 60 anos, também está sendo investigado por vários casos, incluindo um de supostos subornos relacionados a transferências ilícitas para a Coreia do Norte. O opositor de centro-esquerda do PD nega todas as acusações.
Seu partido aposta em uma estratégia menos agressiva em relação a Pyongyang e Lee fez várias declarações favoráveis à China.
Ele também aproveitou um deslize do presidente Yoon no mês passado sobre o preço "razoável" da cebolinha, um ingrediente básico na culinária coreana cujo preço disparou.
Agora, esse humilde vegetal é uma presença comum nos comícios do PD e a Comissão Eleitoral Nacional até teve que proibir sua presença nos locais de votação.
O presidente também foi afetado pela publicação de um vídeo com câmera escondida que mostrava sua esposa, Kim Keon Hee, aceitando uma bolsa de US$ 2.200 (cerca de R$ 11 mil). Yoon defende que era desconfortável para ela recusar o presente.
* AFP