A Rússia acusou nesta quarta-feira (24) Kiev de ter derrubado um avião militar russo na região de Belgorod, perto da fronteira com a Ucrânia, com 65 prisioneiros ucranianos a bordo, que seriam trocados por prisioneiros de guerra russos.
Segundo Moscou, não houve sobreviventes do incidente ocorrido perto da vila de Yablonovo, em território russo, a 45 quilômetros da Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu, nesta quarta, uma investigação internacional sobre o avião russo derrubado.
"É evidente que os russos jogam com as vidas dos prisioneiros ucranianos, com os sentimentos de seus familiares e as emoções da nossa sociedade", disse Zelensky em seu discurso diário, sem confirmar, nem desmentir se as vítimas eram de fato prisioneiros de seu país.
Anteriormente, os serviços de Inteligência militar afirmaram que não tinham "informações confiáveis" sobre os passageiros do Il-76 derrubado, embora tenham confirmado que "estava prevista uma troca de prisioneiros para hoje, mas não aconteceu".
Mais cedo, o Ministério da Defesa russo havia acusado a Ucrânia de ter "derrubado" uma aeronave militar russa que transportava "militares ucranianos para uma troca".
De acordo com Moscou, o Exército ucraniano "sabia com certeza" que os russos levariam os prisioneiros ucranianos de avião para Belgorod e depois para um ponto de encontro na fronteira.
Por sua vez, os serviços de inteligência ucranianos disseram que a Ucrânia "não havia sido informada" da necessidade de garantir a segurança do espaço aéreo na área.
A Ucrânia não sabia "o número de veículos, a estrada ou o modo de transporte dos prisioneiros", acrescentaram, acusando Moscou de os ter "colocado em perigo" de propósito.
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, os ucranianos lançaram dois mísseis a partir de um sistema de defesa antiaérea localizado na região de Kharkiv para derrubar o avião de transporte militar Il-76 e depois poder "acusar a Rússia".
Os 65 soldados ucranianos capturados que, de acordo com a Rússia, estavam a bordo, bem como três militares russos acompanhantes e seis tripulantes, morreram, indicou o ministério.
O Conselho de Segurança se reunirá em caráter de urgência na tarde de quinta-feira em Nova York, a pedido de Moscou, para discutir o caso, anunciou a presidência francesa do organismo.
- "Barulho muito forte" -
Em um comunicado que se abstém de qualquer menção a esse incidente, o Exército ucraniano promete continuar "controlando o espaço aéreo, incluindo a área de Belgorod-Kharkiv", para enfrentar os bombardeios russos na Ucrânia.
O comissário de Direitos Humanos da Ucrânia, Dmytro Lubinets, responsável pelas questões relacionadas às trocas de prisioneiros, instou a "não tirar conclusões precipitadas" do incidente.
Imagens publicadas nas redes sociais mostram um avião caindo quase verticalmente e explodindo ao atingir o solo, em meio a chamas e fumaça preta.
"Ouvimos um barulho muito forte e saímos", contou Maria Mezentseva, que mora em Yablonovo e viu o incidente. "Tinha fogo."
A região de Belgorod frequentemente sofre ataques de mísseis e drones ucranianos em resposta aos múltiplos bombardeios russos na Ucrânia desde o início da operação militar russa em 24 de fevereiro de 2022.
Embora, a princípio, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, tenha prometido "esclarecer" as circunstâncias do acidente, outros funcionários não hesitaram em apontar diretamente para a Ucrânia.
"Eles mataram seus próprios soldados no ar", disse o presidente da Duma, Viacheslav Volodin, que afirmou, sem apresentar provas, que foram usados "mísseis americanos e alemães".
Mais de 8.000 ucranianos, incluindo 1.600 civis, estão nas mãos dos russos, segundo o governo de Kiev.
Em julho de 2022, Rússia e Ucrânia já haviam se acusado mutuamente pelo bombardeio a uma prisão que abrigava prisioneiros ucranianos em Olenivka, povoado no leste ocupado pela Rússia.
- Combates em Donetsk -
Desde o início de sua ofensiva, a Rússia enfrentou vários desastres aéreos com aeronaves militares, e a Ucrânia reivindicou, na semana passada, ter derrubado dois aviões russos.
Os principais combates estão concentrados no front leste da Ucrânia, especialmente nas proximidades de Avdiivka, uma cidade industrial em Donbas que tem sido alvo de repetidos ataques das forças russas, que tentam cercá-la.
"Grupos de sabotagem e reconhecimento russos entraram na parte sul de Avdiivka, mas foram repelidos", declarou o prefeito Vitali Barabash à AFP, descrevendo a situação como "difícil, mas sob controle".
Barabash confirmou que era a "primeira vez" que as tropas russas entravam nesta cidade.
Mais tarde, autoridades regionais de Donetsk anunciaram que duas pessoas morreram e oito ficaram feridas em um ataque russo com foguetes na localidade de Girnyk.
Diante dos bombardeios russos, o governo da região indicou nesta quarta-feira que havia começado a evacuar 72 crianças de dois municípios.
* AFP