Novos bombardeios atingiram neste sábado (13) posições huthis no Iêmen, depois que o grupo rebelde, apoiado pelo Irã, ameaçou continuar suas ações contra navios no Mar Vermelho, uma rota crucial para o comércio mundial.
Os bombardeios ocorrem um dia após os Estados Unidos e o Reino Unido atingirem vários alvos no país, cuja capital, Sanaa, é controlada pelos huthis desde 2014.
Os ataques aumentaram os temores de uma conflagração regional, semelhante à guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza.
Desde o início do conflito, em outubro de 2023, a atividade de grupos apoiados pelo Irã aumentou no Iêmen, Líbano, Síria e Iraque.
Os huthis, que afirmam agir em solidariedade com Gaza, têm atacado navios supostamente ligados a Israel que atravessam o Mar Vermelho, por onde passa 12% do comércio mundial.
Em resposta, os Estados Unidos e o Reino Unido bombardearam o grupo rebelde.
O Exército americano informou neste sábado que suas forças atacaram "um radar dos huthis" como "uma ação de acompanhamento a um alvo militar específico" relacionado aos ataques do dia anterior.
Os meios de comunicação dos huthis indicaram que o ataque atingiu a base aérea de Al Dailami, em Sanaa.
Uma fonte militar ligada aos huthis informou mais tarde à AFP que outro bombardeio atingiu as proximidades da cidade portuária de Hodeida, no oeste.
"O local de onde um foguete huthi foi lançado nas proximidades de Hodeida foi atingido há pouco tempo", afirmou. Outra fonte policial confirmou o bombardeio.
- 'Contexto regional precário' -
Estes rebeldes controlam parte do Iêmen desde o início de uma guerra civil em 2014 e fazem parte do autoproclamado "eixo de resistência", que inclui o Hamas, o Hezbollah libanês e outros grupos armados hostis a Israel e apoiados pelo Irã.
A atividade desses movimentos no Iêmen, no Líbano, na Síria e no Iraque aumentou desde a eclosão da guerra em Gaza no início de outubro de 2023.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu a todas as partes para "não agravarem" a situação volátil na região, disse seu porta-voz.
Estados Unidos, Reino Unido e oito aliados disseram que a operação de sexta-feira tinha como objetivo "desescalar as tensões" e "restaurar a estabilidade no Mar Vermelho", após os inúmeros ataques dos huthis nessas águas.
Os huthis prometeram continuar suas ações nessa importante rota comercial marítima e alertaram que "todos os interesses americanos e britânicos se tornaram alvos legítimos".
O enviado da ONU para o Iêmen, Hans Grundberg, alertou "com grande preocupação" sobre o impacto do "contexto regional cada vez mais precário" no Iêmen e pediu prioridade à diplomacia.
- Ataques no Mar Vermelho -
O ataque dos Estados Unidos e de seus aliados na sexta-feira atingiu quase 30 locais e utilizou mais de 150 projéteis, informou o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Douglas Sims.
De acordo com a rede de televisão huthi Al Marisah, tiveram como alvo uma base aérea, aeroportos e um acampamento militar. Um porta-voz militar huthi disse que pelo menos cinco pessoas morreram.
O presidente americano, Joe Biden, disse "não acreditar" que a ação tenha causado vítimas civis e advertiu que "não hesitará" em ordenar mais ações militares, se necessário.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, afirmou que a violação do direito internacional pelos huthis merecia um "sinal forte" em resposta.
Já o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Naser Kanani, estimou que os ataques ocidentais vão alimentar "a insegurança e a instabilidade na região" e "desviarão" a atenção de Gaza.
Os analistas consideram que é pouco provável que os ataques das potências ocidentais detenham os rebeldes.
"Eles reduzirão, mas não vão acabar, com a ameaça huthi ao transporte marítimo", afirmou Jon Alterman, diretor do Programa para o Oriente Médio no Center for Strategic and International Studies (CSIS), com sede em Washington.
- Custo econômico -
Desde 19 de novembro, os huthis lançaram 27 ataques perto do Estreito de Bab al-Mandeb, que separa a Península Arábica da África, segundo o Exército americano.
Essa instabilidade tem levado várias companhias marítimas a desviarem os navios que transitam entre Ásia e Europa para contornar o continente africano, o que aumenta o tempo e o custo do transporte. Desde meados de novembro, o número de porta-contêineres que atravessam o Mar Vermelho despencou 70%, segundo especialistas em transporte marítimo.
Em Sanaa, centenas de milhares de pessoas, algumas brandindo rifles Kalashnikov, reuniram-se em um protesto onde agitaram bandeiras iemenitas e palestinas e ergueram retratos do líder huthi, Abdulmalik al-Huthi, observou um jornalista da AFP.
"Morte aos Estados Unidos, morte a Israel", gritavam.
* AFP