Milhares de camponeses bloquearam as estradas que ligam o leste ao oeste da Bolívia nesta quinta-feira (25), no quarto dia de protestos em apoio ao ex-presidente Evo Morales, impedido pela justiça de concorrer às eleições presidenciais de 2025.
De acordo com o relatório oficial, dois civis morreram durante os bloqueios de estradas, e onze policiais ficaram feridos na quarta-feira em um confronto com os manifestantes que exigem a renúncia dos juízes do Tribunal Constitucional que decidiram nos últimos dias contra Morales.
"Não vamos para casa sem essas renúncias. Queremos eleições judiciais", disse o líder Vicente Choque à rádio RKC de um dos pontos de protesto no departamento de Cochabamba, reduto político do ex-presidente (2006-2019).
Os juízes constitucionais e de outras cortes prorrogaram seus mandatos - que deveriam ter terminado no ano passado - devido à falta de acordo no Congresso para convocar eleições para escolher novas autoridades judiciais.
Liderados pela poderosa organização de produtores de coca, os apoiadores de Morales bloqueiam o tráfego desde segunda-feira com pedras, troncos e pneus em chamas. Dezenas de veículos ficaram retidos nas estradas.
Nesta quinta-feira, a Administradora de Estradas registrou 22 pontos de bloqueio nos departamentos de Cochabamba, Oruro, Potosí, La Paz e Santa Cruz, o motor econômico da Bolívia, em comparação com os 16 do dia anterior.
Os bloqueios mantêm as regiões leste e oeste da Bolívia incomunicáveis e ameaçam aumentar os preços da carne e dos ovos em La Paz.
Devido a isso, o governo está considerando estabelecer uma "ponte aérea para facilitar a chegada de produtos" à capital boliviana, afirmou o vice-ministro da Defesa do Consumidor, Jorge Silva. Os protestos causam perdas diárias de US$ 128 milhões (R$ 630 milhões), segundo as estimativas do Ministério da Economia.
- Morales vs. Arce -
A manifestação agravou ainda mais o confronto entre Morales e o presidente Luis Arce, seu ex-aliado e ex-ministro da Economia, a quem acusa de sabotar sua candidatura com a ajuda de congressistas e juízes.
Ambos foram proclamados candidatos à presidência em 2025 por seus seguidores.
"O povo está mobilizado e indignado porque os juízes violam flagrantemente a Constituição", escreveu Morales na rede social X, aumentando a pressão para que o Congresso - majoritariamente governista - aprove a convocação de eleições judiciais em até 90 dias.
Enquanto isso, o governo anunciou que investigará os promotores do protesto, após a morte de duas pessoas retidas nos bloqueios na quarta-feira.
A primeira vítima é uma mulher de 53 anos que tinha problemas de pressão arterial e não conseguiu viajar de La Paz para Santa Cruz por terra.
"Queremos denunciar (...) a segunda morte devido ao bloqueio evista", disse o vice-ministro de governo, Roberto Ríos, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
Trata-se de um transportador de 57 anos que teve uma parada cardíaca na região de Chapare, Cochabamba, e não pôde ser socorrido devido ao fechamento das estradas.
"Não estamos criminalizando o protesto, mas vamos investigar porque há uma segunda pessoa morta devido a esses bloqueios, e as pessoas que deram as instruções devem ser investigadas", alertou Ríos.
Na véspera, 11 policiais ficaram feridos quando manifestantes os atacaram com pedras e explosivos em um ponto do protesto no departamento de Potosí.
"A federação de camponeses originários de Potosí, em um grupo de aproximadamente 200 pessoas, atacou nossos policiais", disse o coronel Juan Amílcar Sotopeña, comandante da polícia regional, a uma rádio local.
Morales foi impedido de concorrer nas eleições presidenciais de 2025, devido a uma sentença emitida em dezembro, segundo a qual ele já exerceu os dois mandatos permitidos pelas regras.
O líder máximo dos produtores de coca foi presidente entre 2006 e 2019, quando renunciou após um levante social que denunciava uma suposta fraude eleitoral para obter um quarto mandato.
* AFP