Os soldados israelenses estão há dias com as botas sujas de lama, mas continuam determinados a enfrentar o inimigo, o Hezbollah, contra o qual trocam tiros quase diariamente no sul do Líbano.
"Estamos muito motivados, sabemos que o que fazemos é muito importante", disse o capitão Yoshiahu, de 27 anos, à AFP. "Estaremos aqui o tempo que for necessário", acrescentou.
Este reservista, pai de um filho, deixou família e os estudos de engenharia para servir no front desde 7 de outubro, quando 1.200 pessoas, em sua maioria civis, morreram em um ataque sem precedentes do movimento islamista palestino Hamas em Israel.
Desde então, ele percorre a "linha azul", uma demarcação da ONU entre Líbano e Israel que se estende por 80 quilômetros. Longe dos incessantes disparos de foguetes da guerra do Líbano em 2006, os confrontos atuais ocorrem na forma de trocas de tiros pontuais, mas frequentes.
O que mais se teme agora são as incursões de drones e combatentes dos movimentos armados, algo que já ocorreu, segundo o Exército israelense.
Pela primeira vez na história do país, quase todos os civis da região fronteiriça foram evacuados. Manara, uma das localidades mais próximas à fronteira, na região da Alta Galileia, parece uma vila fantasma.
- 'O DNA' do Hezbollah -
Ninguém recolheu os abacates que estão apodrecendo aos pés das árvores ao lado das casas, nem as bicicletas das crianças que permanecem molhadas pela chuva nos jardins.
A primeira casa tem os vidros quebrados e foi parcialmente danificada quando pegou fogo em 17 de novembro. Os soldados enviados para apagar as chamas foram alvo de pelo menos um tiro, segundo o Exército israelense.
A segunda desabou após ser atingida em 23 de novembro por um míssil antitanque.
O movimento libanês Hezbollah afirma que só ataca alvos militares.
"Lançar um míssil antitanque contra uma casa onde vivem civis mostra exatamente o DNA do que é o Hezbollah", denunciou Olivier Rafowicz, porta-voz do Exército, que convidou a AFP para visitar a área. "Israel não pode continuar assim".
Uma trégua entre o Hamas e Israel, que entrou em vigor na sexta-feira e deve ser estendida por mais dois dias a partir de terça-feira de manhã, parece ter reduzido a tensão na frente norte.
Sob a espessa neblina que cobre Hula, um vilarejo libanês em frente a Menara, o silêncio é inquietante: não há sirenes antiataque aéreo, nem barulho de drones, nem explosões.
"A calma sempre pode esconder algo", diz o coronel Rafowicz. "Isso não significa que o Hezbollah não esteja lá com seus homens e armas".
- 'Não falharemos duas vezes' -
Vários soldados disseram à AFP que eles não tomam a iniciativa do confronto com o Hezbollah, mas querem defender seu país.
"Falhamos em 7 de outubro, fomos ingênuos e arrogantes, e é triste dizer isso, para mim que uso uniforme", declarou um oficial que pediu para não ser identificado. "Mas não falharemos duas vezes".
Nos confrontos na fronteira, mais de 109 pessoas morreram do lado libanês, na maioria combatentes do movimento xiita pró-iraniano Hezbollah, assim como três jornalistas e pelo menos nove israelenses, seis deles soldados, segundo um cálculo da AFP.
Em sete semanas de conflito, a ofensiva do Exército israelense na Faixa de Gaza causou cerca de 15.000 mortos, segundo o governo do Hamas.
Mais de dois terços dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados, segundo a ONU.
Pelo menos 70 soldados israelenses morreram nos combates naquele território palestino.
* AFP