Os partidos portugueses se preparam para virar a página de todo um ciclo político após a renúncia, na terça-feira (7), do primeiro-ministro socialista António Costa, no poder desde 2015, envolvido em um escândalo de corrupção.
O presidente da República, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu nesta quarta-feira (8) os representantes dos principais partidos políticos, como exige a Constituição, antes de decidir se dissolve ou não o Parlamento e convoca eleições antecipadas.
Os principais partidos da oposição de esquerda e de direita já se manifestaram a favor das eleições antecipadas.
"É preciso iniciar um novo ciclo e devolver a palavra aos portugueses", disse Luis Montenegro, presidente do Partido Social-democrata (PSD), principal partido de oposição de direita.
Por sua vez, o Partido Socialista, que dispõe de maioria absoluta no Parlamento, defendeu nomear "um novo primeiro-ministro", afirmou o presidente do PS, Carlos César, após a reunião com Rebelo de Sousa.
Em caso de eleições, o PS preferiria que fossem realizadas em março, o que daria tempo ao partido para encontrar um sucessor para Costa como líder do partido.
Depois de ouvir os partidos, o presidente se reunirá na tarde de quinta-feira com o Conselho de Estado, órgão consultivo no qual participam ex-presidentes, antes de pronunciar um discurso à nação à noite para comunicar a sua decisão.
A renúncia do primeiro-ministro provocou uma onda de choque. "Fim de ciclo", "terremoto de 7 de novembro", "bomba política" foram algumas das manchetes dos jornais na manhã desta quarta-feira para descrever o dia anterior, que marcará a história da vida política portuguesa.
- Sucessão aberta -
"António Costa entrou para a história política portuguesa como o primeiro chefe de Governo em exercício envolvido em uma questão criminal", destacou nesta quarta-feira o jornal Público.
O dia de ontem começou com uma série de operações de busca em ministérios, escritórios de advocacia e dentro da residência do primeiro-ministro, antes de levar à renúncia surpresa de Costa horas depois.
Uma decisão que, segundo ele, tomou depois de descobrir que o seu nome foi citado em um caso de corrupção relacionado com a produção de hidrogênio no sul de Lisboa e a exploração de lítio no norte do país.
O caso que envolve Costa, um dos poucos socialistas à frente de um governo europeu, refere-se a suspeitas de "peculato, corrupção ativa e passiva de titulares de cargos políticos e tráfico de influência", segundo o Ministério Público.
Suspeito de ter interferido "para desbloquear procedimentos" no âmbito deste caso, António Costa será "objeto de uma investigação" autônoma do Supremo Tribunal de Justiça, especificou o Ministério Público.
"Nestas circunstâncias, apresentei evidentemente a minha renúncia", declarou o chefe de Governo à imprensa, negando ter cometido qualquer ato repreensível por lei.
Depois de vencer por maioria absoluta em janeiro de 2022, Costa viu a sua popularidade diminuir devido a diversos escândalos.
A renúncia de Costa, de 62 anos, que não concorrerá a um novo mandato, abre a corrida à sua sucessão dentro do seu partido.
Costa, também secretário-geral do Partido Socialista, convocou uma reunião na sede do seu partido para quinta-feira à noite para analisar a situação política.
A investigação judicial deste caso de corrupção já deu origem a diversas acusações, entre elas a do ministro das Infraestruturas, João Galamba, e à prisão do chefe de gabinete de Costa, Vitor Escaria, assim como de seu assessor, Diogo Lacerda Machado.
Eles deveriam ser informados das medidas de controle judicial que serão aplicadas na tarde desta quarta-feira.
* AFP