Entre casas queimadas em Kfar Aza, um militar israelense mostra uma foto de Ofir Libstein, assassinado no ataque do Hamas contra esse kibutz em 7 de outubro. A visão desse defensor da paz "também morreu aqui", afirma.
O cheiro de morte segue impregnado no ar de Kfar Aza, onde 62 pessoas morreram e 18 moradores foram sequestrados pelo Hamas, segundo um balanço divulgado por uma autoridade militar israelense durante uma visita para os meios de comunicação a essa fazenda coletiva.
O ataque do movimento islamista palestino deixou cerca de 1.400 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo as autoridades. Os kibutz próximos à Faixa de Gaza foram um dos alvos do Hamas.
Desde esse dia, mais de 11.000 pessoas morreram por causa dos bombardeios israelenses em represália contra a Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas, segundo o Ministério da Saúde do movimento islamista.
Entre as vítimas em Kfar Aza havia fervorosos defensores da paz com os palestinos. Alguns kibutz perto da fronteira com Gaza eram conhecidos por serem bastiões da esquerda israelense e dos ativistas pela paz.
Ofir Libstein, chefe do conselho regional das comunidades fronteiriças com Gaza, era um deles. Segundo seus familiares, morreu lutando contra combatentes do Hamas em Kfar Aza.
Libstein defendeu um projeto de "paz econômica" com a esperança de resolver o conflito que opõe Israel e os palestinos há décadas, explicaram seus entes queridos à AFP.
Tinha um projeto para construir uma zona industrial comum ao longo da fronteira para criar empregos para milhares de palestinos da Faixa de Gaza, onde vivem 2,4 milhões de pessoas.
"Se esforçou para romper o ciclo de violência e de ódio com amabilidade e humanidade", contou à AFP uma de suas conhecidas, a rabina Nancy Myers, moradora da Califórnia.
A morte e o sequestro de "tantos israelenses pró-paz que viviam na fronteira com Gaza (...) tornarão muito mais difícil a coexistência pacífica entre palestinos e israelenses", assegurou.
- "Ironia cruel" -
O comandante israelense Nir Boms, que acompanhou a visita, afirmou que alguns moradores de Gaza que receberam permissões para trabalhar nas terras agrícolas dos kibutz estiveram envolvidos na organização do ataque de 7 de outubro, fornecendo informação ao Hamas.
A AFP não conseguiu verificar essa afirmação.
"Há uma ironia cruel no destino de Ofir", declarou Leon Goldsmith, da universidade de Otago, na Nova Zelândia, que se reuniu em julho com Libstein durante um encontro universitário.
"Ofir e outras pessoas nesta região tinham boas intenções" e propunham "uma via mais construtiva que os partidários da linha dura do governo israelense", explicou Goldsmith à AFP.
As autoridades israelenses, fortemente criticadas pela ofensiva mortal do Exército em Gaza, organizaram inúmeras visitas para a imprensa internacional a kibutz atingidos.
A de Kfar Aza foi proposta pelo Jerusalem Press Club e supervisionada pelo Exército.
Durante a visita, o grupo teve que encontrar abrigo quando uma sirene anunciou lançamentos iminentes de foguetes. Os disparos de artilharia do Exército sobre Gaza, de posições próximas, fizeram o kibutz tremer.
Maayan, uma mulher de 38 anos cujos pais morreram em Kfar Aza, externou sua angústia diante do debate polarizado, em muitos países, entre "pró-isralenses" e "pró-palestinos".
"Estou a favor da paz", afirmou à AFP, pedindo que seu sobrenome não fosse divulgado para preservar sua privacidade. "Meus pais teriam dito o mesmo".
* AFP