O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, criticou a China nesta segunda-feira (28) por uma série de incidentes contra os interesses japoneses, que começaram quando Tóquio iniciou a operação de despejo no mar de águas residuais da usina nuclear de Fukushima na quinta-feira (24).
"Houve muitos incidentes de assédio telefônico que se acredita que procedem da China e casos de lançamento de pedras contra a embaixada e escolas japonesas. É preciso dizer que esses incidentes são lamentáveis", disse Kishida à imprensa.
O Japão convocou o embaixador chinês em Tóquio para protestar contra a onda de assédio por telefone da China que as empresas japonesas estão vivendo nos últimos dias.
"Pedimos que apele ao povo chinês que aja com calma e responsabilidade", acrescentou Kishida.
"Após o despejo (da água da usina de Fukushima) no oceano, os Estados Unidos, por exemplo, declararam-se satisfeitos com o processo seguro, altamente transparente e cientificamente justificado implementado pelo Japão", afirmou o primeiro-ministro japonês.
"Gostaríamos de transmitir estas vozes da comunidade internacional ao governo chinês", acrescentou.
Na semana passada, a China suspendeu todas as importações de produtos pesqueiros do Japão, em resposta ao início do despejo de água, resultado das operações necessárias para resfriar os reatores da central nuclear de Fukushima Daiichi, devastada pelo terrível tsunami de 2011 no nordeste do Japão.
O processo foi validado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O Japão garante que será seguro para o ambiente e para a saúde humana.
- Milhares de telefonemas -
Desde o início da operação, empresas japonesas, aparentemente aleatórias, de padarias a aquários, começaram a receber milhares de chamadas de números chineses.
Nas redes sociais, chineses compartilham vídeos que os mostram ligando para números japoneses. Algumas postagens receberam dezenas de milhares de "curtidas".
Desde que o processo começou, "houve um grande número de telefonemas e de outras formas de assédio" que "suspeita-se que venham da China", disse o vice-ministro das Relações Exteriores do Japão, Masataka Okano, ao embaixador chinês nesta segunda-feira.
"Uma série de incidentes parecidos também está ocorrendo na China contra empresas ligadas ao Japão. É extremamente lamentável e estamos profundamente preocupados", acrescentou Okano, segundo comunicado de seu ministério.
Ao ser questionado sobre essas acusações, o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin, disse hoje que a China "sempre protege a segurança e os direitos e interesses legítimos dos estrangeiros na China, de acordo com a lei".
"Instamos firmemente a parte japonesa a encarar as legítimas preocupações de todas as partes, a parar imediatamente de despejar água contaminada no mar, a consultar os moradores e outras partes interessadas e a administrar com seriedade a água contaminada, de forma responsável", advertiu Wang.
- Evitar falar em japonês -
A embaixada japonesa em Pequim pediu aos seus cidadãos que não falassem japonês em voz alta no fim de semana e anunciou, nesta segunda-feira, que reforçou a segurança fora das escolas e missões diplomáticas japonesas no país.
No total, o Japão pretende descarregar no oceano Pacífico mais de 1,3 milhão de m3 de água com trítio, de Fukushima, até ao início da década de 2050, de acordo com o calendário atual.
Essa água foi tratada para eliminar suas substâncias radioativas, com exceção do trítio, e depois diluída com água do mar antes de ser lançada no oceano. O objetivo desse processo foi evitar que seu nível de radioatividade ultrapasse 1.500 Becquerels por litro (Bq/L), ou seja, um nível 40 vezes inferior ao padrão japonês para este tipo de operação.
Os testes de água do mar feito desde o início do derramamento determinaram que o nível de radioatividade está de acordo com as previsões e não excede o limite estabelecido, segundo as autoridades japonesas.
* AFP