Os países da África Ocidental aprovaram uma intervenção militar no Níger "o mais rápido possível" para expulsar do poder os autores do golpe de Estado do mês passado, afirmou o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, na quinta-feira (10).
"Os chefes de Estado-Maior terão outras reuniões para finalizar os detalhes, mas eles têm o acordo da Conferência de Chefes de Estado para que a operação comece o mais rápido possível", disse Ouattara ao retornar a Abidjã, capital financeira da Costa do Marfim, após participar de uma cúpula de emergência da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao).
Mais cedo, a Cedeao havia ordenado a mobilização de sua "força de reserva" para "restaurar a ordem constitucional no Níger", conforme informou o presidente do bloco, Omar Touray, depois da cúpula regional em Abuja, capital da Nigéria.
Após o anúncio da mobilização da força de reserva da entidade, o Ministério das Relações Exteriores da França anunciou por meio de nota, na noite desta quinta, que o país dá "seu pleno apoio ao conjunto das conclusões" adotadas durante a cúpula da Cedeao sobre o Níger.
Além disso, Paris "reitera sua firme condenação à tentativa de golpe em curso no Níger, assim como o sequestro do presidente Bazoum e sua família", acrescentou.
Os Estados Unidos, que contam com soldados no Níger como parte de uma operação antijihadista, também expressou seu apoio "à liderança e trabalho da Cedeao" para restabelecer a ordem constitucional, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
"Os Estados Unidos apreciam a determinação da Cedeao de explorar todas as opções para a resolução pacífica da crise", acrescentou Blinken, em um comunicado posterior.
Em seu primeiro encontro após o golpe de 26 de julho, os líderes da Cedeao haviam lançado um ultimato aos militares para restabelecer o poder do presidente Mohamed Bazoum, sob pena do uso da força.
Mas o prazo concedido expirou no domingo e foi ignorado pelo novo regime, que deu sinais de querer se consolidar no poder.
Na segunda-feira, os militares nomearam um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zein, e anunciaram nesta quinta a formação de um Executivo com 20 ministros, que inclui dois generais à frente das pastas do Interior e da Defesa.
O presidente da Nigéria, Bola Tinubu, à frente da presidência rotativa da Cedeao, insistiu, no início da cúpula, na necessidade de "priorizar as negociações diplomáticas e o diálogo", sem excluir outras opções.
"Não descartamos nenhuma opção, inclusive o recurso da força. Se não o fizermos, ninguém o fará em nosso lugar", afirmou.
Ouattara lembrou que "a Cedeao já tinha intervindo em Libéria, Serra Leoa e Guiné Bissau", quando a ordem constitucional destes países se viu ameaçada.
"Hoje, o Níger vive uma situação parecida e quero lembrar que a Cedeao não pode aceitar isso", acrescentou.
- Intervenção iminente -
O bloqueio ao diálogo alimenta os temores de uma intervenção militar neste país de 25 milhões de habitantes.
Na terça-feira, uma delegação conjunta da Cedeao, da União Africana e da ONU tentou viajar a Niamei, mas os militares recusaram a visita e alegaram motivos de "segurança".
De modo paralelo aos esforços diplomáticos, os comandantes militares dos países da Cedeao se reuniram na semana passada em Abuja para definir como seria uma hipotética intervenção militar.
Mali e Burkina Faso, ex-colônias francesas como o Níger, afirmaram que tal intervenção militar seria considerada uma "declaração de guerra" contra eles próprios.
- Instabilidade regional -
França e Estados Unidos apoiam os esforços da Cedeao para restabelecer o mandato do presidente Bazoum, detido desde o golpe de Estado na residência presidencial.
A França mantém tropas mobilizadas na região para o combate aos grupos jihadistas do Sahel, que desde seu surgimento no Mali em 2012 expandiram sua ação para o Níger e Burkina Faso e agora geram preocupação nos países do golfo da Guiné.
Desde o golpe, Paris suspendeu acordos de cooperação militar com Niamei. Os militares nigerinos já haviam anunciado o rompimento dos acordos, mas a França ignorou a afirmação, por considerar que a junta não tem legitimidade para tomar esta decisão.
* AFP