A ONU entregou, nesta segunda-feira (17), no Iêmen, uma embarcação para transpor o petróleo a bordo de um navio abandonado no Mar Vermelho, uma operação destinada a evitar uma catástrofe ambiental.
A cerimônia de entrega foi a bordo do "Nautica", rebatizado "Iêmen", na presença das autoridades rebeldes huthis, que controlam a capital do país, Sanaa.
A expectativa é que comece nos próximos dias a transposição de 1,14 milhão de barris de petróleo do "FSO Safer", uma embarcação oxidada de 47 anos.
O navio, de propriedade da ONU, chegou no domingo à costa do Iêmen, país devastado por anos de guerra.
A cerimônia desta segunda trouxe alívio para a cooperação entre a ONU e os huthis que, desde 2015, lutam contra uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que apoia o governo reconhecido internacionalmente e com sede na cidade de Áden, sul do Iêmen.
A ONU esperava um ato discreto, mas os huthis convidaram altos funcionários de vários ministérios, além de 20 jornalistas locais.
Após intensas negociações diplomáticas, as autoridades iemenitas autorizaram o início da operação, que deve durar cerca de três semanas.
David Gressly, coordenador residente da ONU no Iêmen, assinou os documentos de entrega junto com Edrees al-Shami, diretor-geral executivo da SEPOC, a companhia iemenita de petróleo e gás, nomeado pelos huthis.
Gressly declarou que a transposição do navio foi organizada com a participação de todas as partes no conflito no Iêmen e que agora pertence "ao povo do Iêmen".
No entanto, os huthis afirmaram que ficaria sob seu controle.
"A transposição é da empresa Safer (SEPOC), que se encontra em Sanaa. É esta empresa que está autorizada a receber o petroleiro", declarou à AFP o ministro de Transportes huthi, Abdulwahab al-Dhura.
- Impulso ao processo de paz? -
O "Nautica", adquirido pela ONU em março, é menor que o "Safer". A embarcação deve atracar ao lado do navio abandonado para que a transposição comece no final desta semana.
O "Safer" está ancorado desde os anos 1980 a cerca de 50 quilômetros do porto de Hodeida. A costa mais próxima fica a nove quilômetros.
Supondo que a transposição seja bem-sucedida, o petróleo permanecerá no "Nautica" em um futuro próximo.
As facções em conflito no Iêmen disputam a propriedade do petróleo.
Os huthis disseram que querem vendê-lo e utilizar a receita para pagar os salários de seus funcionários. Também pediram o fim das instalações de armazenamento em terra para as quais poderia ir o petróleo.
Gressly declarou à AFP que os avanços na operação de transposição aumentam o otimismo em relação a uma solução política para a brutal guerra no Iêmen.
"Não é fácil prever o futuro, obviamente, mas o fato de todas as partes do conflito terem se reunido poderia impulsionar o processo", afirmou.
A guerra iniciada em 2015 entre o governo e os huthis, apoiados pelo Irã, paralisou a manutenção do "Safer".
Segundo a ONU, o navio contém quatro vezes a quantidade de petróleo do Exxon Valdez, o petroleiro que em 1989 provocou uma das piores catástrofes ambientais da história dos Estados Unidos.
Em caso de vazamento, que poderia afetar Arábia Saudita, Eritreia, Djibuti e Somália, a ONU calculou que apenas o custo de limpeza chegaria a 20 bilhões de dólares (cerca de 95 bilhões de reais na cotação atual).
* AFP