Uma grande operação de troca de prisioneiros começou nesta sexta-feira (14) entre as partes em conflito no Iêmen, anunciou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), no momento em que a Arábia Saudita tenta negociar uma trégua com os rebeldes neste país devastado pela guerra.
O primeiro voo, com 35 prisioneiros a bordo, partiu da capital Sanaa para Aden, no sul, onde fica a sede temporária do governo, informou o CICV.
Outro avião com 125 prisioneiros a bordo decolou na direção oposta, explicou o CICV posteriormente. Outros dois voos também foram agendados para esta sexta-feira, nos quais serão trocados 322 prisioneiros.
Multidões de parentes ansiosos para ver seus entes queridos novamente se formaram nos aeroportos das duas cidades.
"Estou esperando por este dia há cinco anos. Estou esperando por meu pai e meu primo", disse Mohamed Al Qubati em Sanaa.
Houve uma explosão de júbilo em Aden quando o ex-ministro da Defesa do Iêmen, Mahmud al Subaihi, e o irmão do ex-presidente, general Nasser Mansur Hadi, saíram do primeiro avião quando ele pousou.
No fim de março, o governo reconhecido internacionalmente e os rebeldes houthis chegaram a um acordo em Berna (Suíça) para a troca dos prisioneiros, que incluem sauditas e sudaneses.
A última iniciativa desta magnitude aconteceu em outubro de 2020, quando mais de mil prisioneiros foram liberados em 48 horas.
A Arábia Saudita passou a intervir no vizinho Iêmen em 2015 para apoiar as forças pró-governo contra os houthis, apoiados pelo Irã, que em oito anos de conflito assumiram o controle de grandes faixas de território no norte e oeste do país mais pobre da península arábica. Os rebeldes também controlam Sanaa.
- "Vislumbre de esperança" -
A guerra provocou uma das piores crises humanitárias do mundo, com centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados, com epidemias, falta de água potável e fome aguda. Mais de 75% da população depende de ajuda internacional.
O processo de troca de prisioneiros acontecerá durante três dias em várias regiões do Iêmen e da Arábia Saudita, de acordo com o CICV.
Hans Grundenberg, enviado especial da ONU para o Iêmen, aplaudiu a libertação dos prisioneiros, que ocorreu dias antes do feriado muçulmano de Aid al Fitr, que marca o fim do jejum do Ramadã.
"Centenas de famílias iemenitas poderão celebrar o Aid com seus entes queridos porque as partes negociaram e chegaram a um acordo", disse Grundenberg em um comunicado.
"Espero que esse espírito se reflita nos esforços atuais para avançar em direção a uma solução política abrangente. Milhares de famílias ainda estão esperando para se reunir com seus entes queridos", acrescentou.
O acordo de Berna foi alcançado após uma inesperada aproximação entre Arábia Saudita e Irã, dois países muito influentes no Golfo e rivais, e inclusive muitas vezes em lados opostos nos conflitos do Oriente Médio, como no Iêmen.
- Negociações -
A guinada diplomática aumentou as esperanças para a redução da tensão no Iêmen. Uma delegação saudita visitou Sanaa esta semana e deixou o país apenas com um "acordo preliminar" de trégua e a promessa de "novas negociações", afirmou um líder rebelde que pediu anonimato.
De acordo com fontes do governo iemenita, que também pediram anonimato, as negociações se concentram em uma trégua de seis meses que abriria o caminho para um período de negociações de três meses sobre uma transição de dois anos, período em que as partes abordariam uma solução final.
A trégua deve permitir a apresentação de respostas às principais exigências dos rebeldes: o pagamento pelo governo dos salários dos funcionários públicos nas zonas insurgentes e a reabertura do aeroporto de Sanaa, estritamente controlado pela aviação saudita.
No ano passado, as partes respeitaram uma trégua de seis meses. Embora não tenha sido oficialmente prorrogada depois que expirou no início de outubro, a situação permaneceu relativamente tranquila no país.
* AFP