Pelo menos 85 pessoas morreram, e 322 ficaram feridas em um tumulto na capital do Iêmen durante a entrega de uma ajuda de oito dólares (cerca de 40 reais) para o feriado do Ramadã, uma das piores tragédias desse país empobrecido que começa a vislumbrar o fim de sua prolongada guerra civil.
Três comerciantes foram detidos no incidente em Sanaa, a capital controlada pelos rebeldes huthis, depois que grandes multidões se reuniram em uma escola em um bairro histórico da capital para receber ajuda em dinheiro de 5.000 riais iemenitas (em torno de US$ 8, ou R$ 40).
"Havia uma multidão. Se jogaram em cima de mim e me machucaram", contou ao canal de televisão huthi Al Masirah um menino ferido, na cama do hospital.
"Muita gente veio receber a ajuda", disse à AFP Alaa Said, um morador de Sanaa, de 28, levemente ferido.
"As pessoas se empurravam, umas em cima das outras, e eu bati a cabeça na parede", acrescentou.
A debandada ocorreu à noite, enquanto a ajuda estava sendo distribuída.
"Ouvimos gritos que vinham lá da frente", disse outro sobrevivente, Nabil Ahmed, 23, que estava atrás da multidão quando o drama ocorreu.
Imagens assustadoras transmitidas pela Al Masirah mostraram multidões de pessoas pressionadas umas contra as outras, com algumas tentando escalar o resto para escapar da aglomeração.
Outras fotos mostraram os corpos no chão em meio ao pânico, a porta do colégio arrancada, e manchas de sangue sobre as escadas de pedra. O local ficou posteriormente repleto de pilhas de sandálias, roupas e uma muleta abandonadas, enquanto um investigador em traje de proteção coletava evidências.
Pelo menos "85 pessoas morreram e mais de 322 ficaram feridas" no incidente no distrito de Bab al Iêmen em Sanaa, disse um oficial de segurança huthi.
"Há mulheres e crianças entre os mortos", disse à AFP sob condição de anonimato, porque não estava autorizado a falar com a imprensa. Uma fonte médica confirmou a informação.
A nação mais pobre da península arábica é atingida por uma longa guerra que opõe rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, contra um governo apoiado por uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.
Centenas de milhares de pessoas morreram na guerra direta, ou indiretamente, e milhões estão à beira da fome.
Há, no entanto, um ímpeto crescente para uma trégua e negociações de paz depois que os sauditas mantiveram negociações com os huthis na semana passada, após a normalização das relações diplomáticas entre os rivais regionais Arábia Saudita e Irã.
- Grande aglomeração -
Testemunhas disseram que a debandada começou com tiros enquanto a multidão se reunia em uma escola no distrito histórico de Bab al Iêmen, em Sanaa, para receber dinheiro de um empresário.
O chefe do Comitê Revolucionário Supremo dos huthis, Mohamed Ali al-Huthi, atribuiu a debandada à "aglomeração".
A multidão se reuniu em uma rua estreita que levava à entrada da escola, disse ele. Assim que as portas foram abertas, as pessoas correram para uma escada que levava ao pátio onde estava ocorrendo a distribuição.
"As pessoas foram informadas há uma semana que o dinheiro seria entregue sem verificação de identidade", disse uma testemunha.
"As pessoas se aglomeraram, o portão foi aberto e, com a quantidade de gente, a debandada aconteceu", acrescentou.
O chefe da polícia rebelde, Mahdi al Mashat, disse que um comitê foi formado para investigar os eventos.
Após o incidente, as famílias dos afetados correram para os hospitais. Muitos não puderam entrar, porque as autoridades estavam visitando as vítimas. As forças de segurança foram mobilizadas para o local da ocorrência e impediram a passagem de pessoas que se aproximavam para encontrar seus familiares.
Mais de oito anos de guerra civil deixaram o Iêmen atolado no que a ONU define como uma das piores tragédias humanitárias do mundo.
* AFP