Os debates sobre mudanças climáticas e energia ganharam destaque nesta sexta-feira (17), na agenda da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no Panamá, em meio às turbulências no sistema bancário dos Estados Unidos e da Europa.
Três ministros das Finanças da América do Sul compartilharam as propostas de seus países para conter a mudança climática, na véspera da primeira sessão plenária dos governadores dos 48 países do BID, a máxima instância da entidade.
A ministra da Fazenda do Uruguai, Azucena Arbeleche, sugeriu que a taxa de juros cobrada por empréstimos de organismos financeiros multilaterais, como o BID ou o Banco Mundial, esteja "vinculada ao comportamento ambiental dos países".
"Que os países que contribuem para um bem público global como o meio ambiente sejam recompensados", pediu Arbeleche em um painel do qual também participaram seus homólogos colombiano, José Antonio Ocampo, e chileno, Mario Marcel.
Ocampo destacou o avanço da Colômbia nas iniciativas para proteger a Amazônia, o pulmão do mundo, mas indicou que no "setor de transportes estamos muito atrás".
O ministro ficou satisfeito porque "duas das montadoras da Colômbia vão produzir veículos elétricos", mas admitiu que um grande desafio para seu país é ter caminhões e ônibus "mais limpos".
Por sua vez, Marcel enfatizou que "o Chile, que era um país quase 100% dependente da importação de combustíveis fósseis, agora tem quase a metade obtida de fontes renováveis e, em 2030, esse valor será superior a 80%".
"Há muito tempo a mudança da matriz energética começou a ser levada a sério e o que avançamos até agora nos dá uma vantagem muito importante", disse Marcel, que destacou que "houve muita continuidade nas últimas três governos sobre mudanças climáticas", apesar das diferenças ideológicas entre eles.
- Inquietações -
A assembleia do BID começou na quinta-feira, em meio a inquietações após a quebra do Silicon Valley Bank e de outros dois bancos nos Estados Unidos, assim como dificuldades no americano First Republic e no suíço Credit Suisse.
Os mercados americanos e europeus voltaram a operar com perdas nesta sexta-feira, depois de um novo colapso das ações do First Republic Bank em Nova York e do Credit Suisse em Zurique, sinal de preocupações persistentes sobre o setor bancário apesar das medidas de proteção extraordinárias das autoridades.
A quebra de três bancos em menos de uma semana nos Estados Unidos foi a mais grave desde a crise financeira de 2008. Essas turbulências podem reduzir a disponibilidade de crédito e encarecer seus custos, o que prejudicaria diretamente as nações latino-americanas, segundo especialistas.
Em seu discurso de abertura da assembleia, o novo presidente do BID, o brasileiro Ilan Goldfajn, não mencionou os problemas no sistema bancário, mas antecipou que temas de "conjuntura" certamente seriam tratados no fórum.
Goldfajn advertiu também para o atual "momento onde o custo do dinheiro está subindo no mundo", o que "sempre tem impactos" sobre as economias.
- Contágio? -
Apesar das turbulências no setor bancário não terem sido abordadas na assembleia do BID, economistas e operadores financeiros estão preocupados na América Latina.
"Um sistema financeiro fragilizado nos Estados Unidos aumenta o risco global de uma recessão. Isso afasta os investidores do risco e os ativos de mercados emergentes são considerados arriscados", disse à AFP o economista e acadêmico peruano Alberto Arispe, ex-gerente da Bolsa de Valores de Lima.
"Isso contagia os demais países e, com menos investimentos e uma potencial retirada de capitais, esses países crescem menos, podem ter menor fluxo de dólares, o que enfraquece suas economias. As mais sólidas vão aguentar, mas as economias mais frágeis podem ter problemas", acrescentou Arispe, atual gerente da operadora Kallpa Securities SAB.
Os governadores do BID terão reuniões a portas fechadas no fim de semana, após dois dias de seminários de especialistas sobre luta contra a pobreza, segurança alimentar, mudança climática, desenvolvimento sustentável e parceria público-privada, entre outros. O fórum terminará no domingo.
- Banco Mundial -
O candidato indicado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à presidência do Banco Mundial, Ajay Banga, está no Panamá para se reunir com os ministros latino-americanos.
O presidente em fim de mandato do Banco Mundial, o americano David Malpass, deixará o cargo antecipadamente, em meio às dúvidas sobre sua posição sobre o aquecimento global.
Tradicionalmente, o candidato indicado por Washington torna-se o novo presidente do Banco Mundial, organismo que também financia diversos projetos na América Latina e no Caribe.
O BID, criado em 1959 e com sede em Washington, também é uma das principais fontes de financiamento de longo prazo para a região.
* AFP