O diretor da Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou neste sábado (4) que teve "conversas construtivas" com autoridades iranianas em Teerã, que podem abrir caminho para a retomada das negociações visando à reativação do acordo nuclear de 2015.
"Com as conversas construtivas que estamos tendo agora... estou convencido de que abriremos o caminho para acordos importantes", disse Grossi durante entrevista coletiva com Mohamad Eslami, chefe da Organização de Energia Atômica do Irã.
"As conversas continuam em um clima de trabalho, franqueza e cooperação", disse o diplomata argentino, que acrescentou que terá um "melhor julgamento" no final da jornada, após dois dias de visita.
Grossi não especificou os avanços, mas o objetivo declarado desta visita é "relançar o diálogo" com vistas a uma retomada das negociações sobre o acordo, alcançado em 2015 em Viena, entre o Irã e as grandes potências (Estados Unidos, França, Alemanha , Reino Unido, Rússia e China), para limitar suas atividades nucleares em troca do levantamento das sanções internacionais.
- Obrigações -
Após a reunião, Eslami garantiu que as autoridades iranianas continuariam trabalhando com a AIEA, ao mesmo tempo que instou as outras partes a "cumprirem suas obrigações" nos termos do acordo. "O Irã nunca irá sacrificar os interesses nacionais", enfatizou.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, também ressaltou, em reunião com Grossi, a defesa dos "direitos da nação iraniana". "Esperamos que a OIEA adote uma abordagem totalmente profissional, e que os poderes políticos não afetem as atividades do órgão", disse Raisi, segundo o site da presidência.
Grossi também se reuniu com o chefe da diplomacia iraniana, Hosein Amir Abdollahian, o qual afirmou recentemente que "a janela" para retomar o acordo estava "aberta", mas que "não permaneceria sempre assim".
Uma fonte diplomática disse à AFP que Grossi espera se encontrar com o presidente Ebrahim Raisi, mas isso não foi confirmado.
- Preocupações ocidentais -
Dependendo do resultado dessa visita, Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido decidirão se apresentam uma resolução de censura ao Irã ao conselho de governadores da AIEA, que deve se reunir em Viena na próxima semana.
Suas preocupações aumentaram recentemente. Segundo um relatório confidencial da AIEA, ao qual a AFP teve acesso na terça-feira, partículas de urânio enriquecido a 83,7%, pouco menos que os 90% necessários para fazer uma bomba atômica, foram encontradas na usina subterrânea de Fordo, cerca de 100 quilômetros ao sul de Teerã.
O Irã nega querer adquirir a bomba nuclear e se justificou dizendo que houve "flutuações involuntárias" no processo de enriquecimento.
A República Islâmica afirmou que não tentou enriquecer urânio além de 60% e insiste em que seu programa nuclear é estritamente civil.
A França, signatária do acordo de 2015, descreveu a descoberta de urânio altamente enriquecido como "extremamente grave".
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* AFP