Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas, nesta sexta-feira (24), rumo à histórica Praça de Maio, em Buenos Aires, e aos parques da Argentina no 47º aniversário do golpe de Estado de 1976, instituído como Dia da Memória, da Verdade e da Justiça.
Como ocorre a cada ano, multidões de argentinos rendem, nessa data, homenagens aos milhares de desaparecidos e vítimas da ditadura sob o já histórico lema "Nunca mais", que voltou a ficar em voga com o filme "Argentina, 1985", indicado esse ano ao Oscar de Melhor Filme Internacional e que retrata o primeiro julgamento dos comandantes da ditadura com sentenças de prisão.
O documento lido em um comício na lotada Praça de Maio, segundo os jornalistas da AFP, enfatizou que o atentado contra a vida da vice-presidente Cristina Kirchner, em 1º de setembro de 2022, quando um homem disparou contra ela mas a arma falhou, representa uma ameaça à democracia.
"Não há como minimizar uma tentativa de assassinato. A solidariedade e o repúdio de líderes de toda a América Latina, dos Estados Unidos, da Europa e do papa Francisco mostram que o mundo compreende plenamente a gravidade do ocorrido", disse o texto.
Multidões se mobilizaram para as praças das cidades de toda a Argentina, um país de mais de 45 milhões de habitantes.
Desde que, em 2003, foram revogadas pelo Congresso leis de anistia adotadas durante o governo do direitista Carlos Menem (1985-1989), 1.115 ex-militares e ex-policiais foram condenados em quase 300 julgamentos, segundo estatísticas da Promotoria de Crimes Contra a Humanidade.
"Faço uma reflexão positiva de como a Argentina pôde resolver um processo tão doloroso como foi o golpe, o genocídio e a tortura e esse exemplo é reconhecido mundialmente", disse à rádio Destape o ministro do Interior, Eduardo De Pedro, filho de dois militantes políticos sequestrados e assassinados por agentes da ditadura.
"É preciso manter a memória, senão a história se repete", disse à rádio 750 a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, cuja organização conseguiu até agora reconstituir a identidade de 132 pessoas, arrancadas ainda bebês dos braços de suas mães, presas e desaparecidas.
A evidência de um plano sistemático de apropriação de bebês, muitos deles nascidos em cativeiro, permitiu a condenação à prisão perpétua do ditador Jorge Videla, que havia sido indultado por Menem. Videla morreu em 2013 na prisão.
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* AFP