O Congresso Nacional Africano (ANC), partido fundado por Nelson Mandela e no poder desde o fim do apartheid, reelegeu nesta segunda-feira (19), em Johannesburgo, o presidente Cyril Ramaphosa para liderar a formação e, portanto, continuar a presidir a África do Sul.
Ramaphosa, de 70 anos, goza de grande popularidade, apesar do escândalo político desencadeado depois que foi revelado que ele escondia grandes somas de dinheiro em um sofá em uma de suas luxuosas propriedades.
O político foi declarado vencedor pelos delegados do partido com 2.476 votos, contra 1.897 obtidos pelo seu único adversário, o ex-ministro da Saúde Zweli Mkhize, de 66 anos.
O resultado da votação abre caminho para o presidente conquistar um segundo mandato como líder da nação, caso o ANC vença as eleições gerais de 2024.
Sipho Mthembu, presidente do ANC na província de Gauteng, comentou à AFP que estava "muito desapontado" com o resultado.
"Todos nós sabemos que muitas coisas ruins aconteceram sob Ramaphosa e a imagem do ANC foi comprometida", disse Mthembu.
O partido perdeu espaço nos últimos anos, dividido por facções rivais e em um cenário de aumento do desemprego e da pobreza.
A votação, que seguiu até a madrugada, foi marcada pela incerteza, já que Mkhize mantinha uma vantagem confortável há alguns dias.
O ex-ministro da Saúde foi muito elogiado pela gestão da pandemia de covid-19, mas perdeu força em 2021 devido a acusações de corrupção e desvio de verbas precisamente na concessão de um contrato para uma campanha de conscientização.
Ainda assim, alguns delegados provinciais anunciaram na tarde de sábado que passariam para o lado de Mkhize, levantando dúvidas sobre o real apoio do atual presidente.
Ramaphosa, procedente de uma família modesta de Soweto, começou como favorito quando foram anunciados os candidatos no mês passado. O partido o salvou de um processo de impeachment na semana passada no Parlamento.
- Melhor carta para 2024 -
O presidente, que fez fortuna no mundo dos negócios, foi acusado de ter escondido maços de dinheiro no sofá de uma de suas propriedades.
O caso estourou em junho, quando um ex-oficial de inteligência próximo aos críticos de Ramaphosa no ANC abriu um processo.
Segundo ele, ladrões invadiram o imóvel, trazendo à tona o dinheiro escondido, mas o presidente não denunciou o fato à polícia nem ao fisco.
Ramaphosa sempre negou qualquer irregularidade, alegando que o dinheiro era procedente da venda legítima de animais de sua fazenda.
Durante seu discurso na abertura do congresso do partido na sexta-feira, Ramaphosa foi interrompido por dezenas de delegados, que gritaram e bateram nas mesas, imitando um moinho de vento com as mãos para pedir mudanças.
Já seus apoiadores levantaram os dedos indicador e médio, exigindo um segundo mandato para o homem que Nelson Mandela chamou de o mais talentoso de sua geração.
Para o cargo de vice-presidente, o ANC escolheu Paul Mashatile, de 61 anos, da 'township' mais pobre de Johannesburgo.
Até agora, Mashatile era o tesoureiro do partido.
Rampahosa "recuperou a presidência do ANC, mas pode ser uma 'vitória de Pirro' amarga, porque os sete primeiros são ainda mais hostis a ele", comentou Richard Calland, professor de direito e analista político.
Se Ramaphosa for indiciado pelo escândalo, a Constituição prevê que seu vice-presidente o suceda.
Em todo o caso, tendo em conta as eleições gerais de 2024, a melhor carta do ANC continua a ser Ramaphosa, segundo vários analistas.
* AFP