O governo do Panamá rejeitou, nesta sexta-feira (23), regularizar a passagem de migrantes irregulares pela inóspita floresta do Estreito de Darién, na qual morreram 60 pessoas entre as mais de 240.000 que cruzaram neste ano este ponto fronteiriço com a Colômbia em seu caminho para os Estados Unidos.
"A floresta de Darién não será uma rota regularizada", disse a chanceler panamenha, Janaina Tewaney, durante reunião com jornalistas nesta sexta.
"Neste espaço, na fronteira, ocorrem crimes de todo tipo porque não é uma rota segura. Há quem insista que sim, mas não é", insistiu a ministra ao explicar a decisão de seu governo.
"Não vamos ponderar nenhuma rota por Darién, muito pelo contrário, as medidas que serão tomadas são para proteger a floresta de Darién, não para normalizar uma rota que não deve ser normalizada", assinalou Tewaney.
Ela se reuniu esta semana em Washington com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, para analisar possíveis medidas para conter o recorde de pessoas que atravessam a perigosa floresta panamenha em seu caminho rumo aos Estados Unidos.
Segundo dados informados pelo governo panamenho, este ano 243.000 pessoas (dois terços delas de nacionalidade venezuelana) usaram a rota do Darién - um número que supera com folga os registros do ano anterior, de 133.000 migrantes que fizeram esta travessia.
O diretor-geral do Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses do Panamá, subordinado ao Ministério Público, José Vicente Pachar, informou à AFP nesta sexta que pelo menos 60 migrantes morreram em 2022 cruzando o Darién, superando os 50 mortos registrados em 2021.
"Há muitos testemunhos de falecidos abandonados na selva", afirmou Pachar.
- Área perigosa -
A fronteira entre o Panamá e a Colômbia, com 266 km de extensão e 575.000 hectares de floresta, é um corredor repleto de perigos, com animais selvagens, rios caudalosos e grupos de criminosos que se aproveitam de quem tenta migrar para os Estados Unidos atravessando a América Central.
Panamá, Colômbia e Costa Rica, com o apoio dos Estados Unidos, buscam estabelecer possíveis rotas migratórias para facilitar um trânsito seguro e regularizado para um número recorde de migrantes.
Os Estados Unidos destinaram cerca de 18 milhões de dólares em 2022 para a assistência humanitária de refugiados e migrantes vulneráveis no Panamá, um valor quatro vezes maior ao enviado em 2021.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, defendeu em setembro a ideia de uma "presença do Estado que permita a assistência às pessoas que estão recorrendo à rota da morte".
O Panamá ergueu vários acampamentos de atendimento humanitário para migrantes na fronteira com a Colômbia, mas entende que facilitar seu traslado pela selva representaria uma vantagem indireta aos traficantes de pessoas.
"As histórias dos migrantes são de partir o coração. Esta é uma viagem perigosa que ninguém deve fazer", declarou, no começo de dezembro, a embaixadora dos Estados Unidos no Panamá, Mari Carmen Aponte.
O governo panamenho considera, ainda, que qualquer abertura da floresta representaria um risco à biodiversidade do país.
"O Darién é uma floresta protegida, um território ancestral dos nossos indígenas, é nosso pulmão e é, para o Panamá e a América Central, o mesmo que a Amazônia é para a América do Sul", concluiu Tewaney.
* AFP