É um coral racialmente diverso que funciona como um internato para garotos de todas as condições socioeconômicas. O Coral de Drakensberg, que se apresenta no mundo todo, está cravado em uma das mais belas paisagens montanhosas da África do Sul.
A particularidade deste conjunto é que "utiliza a música como veículo de mobilidade social, de sucesso acadêmico, de construção da personalidade, em um país devastado pela questão racial", explicou a professora e historiadora da arte Pitika Ntuli, de 80 anos.
No final do ano, estes garotos, com idades que variam dos 9 aos 15 anos e devidamente arrumados, ensaiam o Glória de Vivaldi antes de seus primeiros concertos de Natal desde a pandemia da covid-19.
Ethan Palagangwe, de Mitchells Plain, um subúrbio da Cidade do Cabo assolado por gangues, é aluno do internato, situado em uma propriedade de 100 acres.
O adolescente de 12 anos ganhou uma bolsa de estudos, entre 1.600 candidatos, graças à resposta de sua mãe a um anúncio publicado em um jornal local.
Filho de um policial e de uma cantora, o menor sorri ao relembrar seu início modesto em família. Aos oito anos, "cantava o tempo todo, adorava karaokê".
Hoje, ele é um dos músicos mais destacados da escola. Sua educação é financiada por seus pais e por doadores por meio de um mecanismo de "crowdfunding" chamado "back-a-buddy" (apoie um colega, em tradução livre).
- Crescimento -
O repertório também é único: vai do clássico ao pop, passando pelas canções tradicionais sul-africanas, tanto em africâner quanto em zulu.
"Ele é o único no mundo, desse nível, que canta todos os gêneros", diz o maestro da orquestra Vaughan van Zyl, enxugando o suor da testa entre os ensaios.
"Dê a essas crianças canções africanas, de outros países, música sacra, secular, eles aguentam tudo", elogia.
Inspirada nos Coral dos Meninos de Viena, a instituição, que cantou para Nelson Mandela, foi criada há 55 anos, ainda sob o Apartheid. Hoje, é composta de 70 cantores de todas as cores de pele.
Após os cantos, o refrão transita suavemente para uma dança percussiva de botas de borracha inventada na África do Sul por mineiros para escapar da monotonia de seu trabalho.
"Aqui ouvimos as vozes do arco-íris", afirmou o professor Ntuli, sobre este país mestiço e reconciliado, ao qual se referiu o agora falecido arcebispo Desmond Tutu.
"Essa é a nossa cara de 'boys band'", brinca ele. "Passamos de um canto clássico para esta coreografia", completa.
Khwezilomso Msimang, de 15 anos, pratica a dança.
Antes preocupada com a ideia de enviar seu filho único para lá, sua mãe, Bongi, diz que "é um lugar onde os meninos se tornam homens".
Combinar aulas acadêmicas com duas horas de música por dia não é fácil. "É o desafio o que os ensina a se tornarem resistentes", afirma o diretor, Dave Cato.
* AFP