As Avós da Praça de Maio anunciaram, nesta quarta-feira (28), que foi encontrado o neto 132 roubado durante a ditadura argentina (1976-1983), filho de uma trabalhadora sequestrada em 1976 em Tucumán (norte) quando a criança tinha 9 meses e cujo pai não não foi identificado.
"Hoje o abraçamos como nosso neto 132. É um quebra-cabeça que nunca se completa. Um novo caminho se inicia para poder encontrar seu verdadeiro pai", declarou em entrevista coletiva a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, de 92 anos.
O homem, chamado Juan José, de 47 anos, acompanhou remotamente em Tucumán a entrevista coletiva, realizada no Espaço Memória e Direitos Humanos, onde funcionou o centro de detenção clandestino da Escola de Mecânica da Marinha (ExEsma).
Segundo Estela, o tribunal federal 1 de Tucumán informou hoje a Juan José "que ele não é filho de quem o criou, e confirmou que, efetivamente, ele foi vítima de sequestro, ocultação e troca de identidade no âmbito do terrorismo de Estado".
- Família dizimada -
Juan José é filho de Mercedes del Valle Morales, que tinha 23 anos quando foi sequestrada e desapareceu, em 20 de maio de 1976, na cidade de Tucumán. Ela trabalhava em uma propriedade cujos donos criaram seu filho como se fosse deles.
Juntamente com Mercedes foram sequestrados os avós maternos de Juan José, e, quatro dias depois, seus três tios. Todos desapareceram durante a ditadura.
O neto 132 começou a investigar sua identidade em 2004, depois que seus supostos pais morreram e seus irmãos de criação lhe contaram que ele não era filho biológico da família e lhe entregaram seu documento de identidade original.
Após uma pesquisa documental e estudos de DNA no Banco Nacional de Dados Genéticos, em 2008 ele descobriu que era filho de Mercedes del Valle Morales, que constava entre os desaparecidos durante a ditadura.
José deixou seu perfil genético com a Equipe de Antropologia Forense (EAAF), que conseguiu identificar os restos mortais de sua mãe no Cemitério Norte de Tucumán. Para confirmar se a pessoa que o criou era seu pai biológico, o corpo teve que ser exumado. O resultado negativo da filiação foi confirmado hoje.
As Avós da Praça de Maio ainda procuram cerca de 300 pessoas de cerca de 45 anos que vivem com identidade falsa, nascidas quando suas mães estavam em cativeiro ou que foram sequestradas quando eram bebês. O caso de José não estava contabilizado entre os procurados pela associação.
Essa foi a segunda solução de um caso de roubo de bebê durante a ditadura anunciado pelas Avós na última semana, após três anos sem descobertas.
* AFP