A conferência do clima do Egito (COP27) entrou em suas horas decisivas neste sábado (19), após um acordo sobre um dos pontos mais importantes, um fundo de perdas e danos provocados pela mudança climática.
Depois de 24 horas de negociações intensas, "um acordo foi alcançado sobre a criação deste fundo específico os países vulneráveis", disse uma fonte europeia que pediu anonimato.
Sherry Rehman, ministra de Mudanças Climáticas do Paquistão e atual presidente do poderoso grupo de negociação G77+China, que inclui mais de 130 países, disse que está "otimista a respeito de uma resolução positiva".
A presidência egípcia da COP27 distribuiu durante o dia um novo rascunho de comunicado final entre as quase 200 delegações, após uma noite de negociações intensas. O prazo original para o fim da conferência era sexta-feira (18).
O novo texto foi apresentado depois de um ultimato europeu, que denunciou o que considerava um "retrocesso inaceitável".
De acordo com os representantes europeus, a presidência egípcia queria provocar um retrocesso do compromisso dos quase 200 países membros da COP de continuar reduzindo as emissões de gases do efeito estufa, o que é conhecido como o capítulo de mitigação nas negociações.
A UE prefere "não ter um resultado do que ter um resultado ruim", afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.
"A grande maioria das partes indicou que considerava o texto equilibrado e que pode resultar em um consenso", respondeu pouco depois o chanceler egípcio Sameh Shoukry, que preside a COP27.
A mitigação é imprescindível para manter de pé o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a +1,5ºC, como estabelecido no Acordo de Paris de 2015.
O novo rascunho inclui demandas de países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos e da União Europeia, e exigências dos países em desenvolvimento.
"Esperamos ter as duas coisas que farão desta uma COP viável: o compromisso com 1,5ºC, com decisões claras, e o fundo", declarou a ministra colombiana do Meio Ambiente, Susana Muhamad.
- Perdas e danos -
Os países mais vulneráveis aos desastres naturais exigem a criação do fundo há 30 anos.
E este foi o tema dominante da 27ª conferência do clima da ONU, que começou em 6 de novembro.
As negociações aceleraram depois que os europeus aceitaram contemplar a criação do fundo, em troca basicamente de duas condições.
A primeira é "ampliar a base de doadores", ou seja, integrar os países que se tornaram grandes emissores de gases do efeito estufa, como a China.
E a segunda condição é obter um compromisso forte e explícito a respeito da mitigação, para manter o objetivo do limite de +1,5ºC.
Os vínculos entre um fundo de compensações, quem contribui para o mesmo e a mitigação das emissões chegaram a paralisar as negociações, segundo várias fontes consultadas pela AFP.
"Parece que há um acordo com os líderes das negociações nos grupos, mas aguardamos o golpe de martelo que marcará o pacto final", disse à AFP o coordenador da delegação jamaicana, Matthew Samuda.
O representante chinês, Xie Zhenhua, disse que a participação dos países em desenvolvimento neste fundo deve ser "voluntária".
- Questões entrelaçadas -
"Como vocês podem imaginar, nenhum grupo poderia dizer que todos os seus interesses estão contemplados", explicou Shoukry.
"Há insatisfação em todas as partes, mas há uma grande maioria que apoia o texto", insistiu o chanceler egípcio.
Shoukry afirmou na sexta-feira que todas as questões estavam "entrelaçadas".
Nas conferências do clima da ONU todas as decisões devem ser tomadas por consenso.
A delegação dos Estados Unidos não falou durante os debates, mas atuou nas salas de negociações, de acordo com várias fontes.
- US$ 100 bilhões por ano -
Segundo o Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu as bases do atual compromisso contra a mudança climática, a responsabilidade diante da mudança climática é comum, embora diferenciada, ou seja, que os países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base em seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.
Entre os países em desenvolvimento há uma desconfiança considerável pelas promessas não cumpridas do passado.
Em 2009, os países desenvolvidos prometeram que desembolsariam a partir de 2020 a quantia de 100 bilhões por ano para ajudar na adaptação dos países pobres às mudanças climáticas e na redução de suas emissões, ao mesmo tempo que iniciam a transição energética.
E o valor de 100 bilhões de dólares, que ainda não foi completado, deve ser aumentado, a princípio, a partir de 2025.
* AFP