A comunidade LGBTQIA+ fez, neste sábado (17), uma manifestação em Belgrado por ocasião da Europride - a Marcha do Orgulho europeia -, sob proteção policial, apesar da proibição do desfile por parte das autoridades, que prenderam cerca de trinta pessoas.
O desfile deveria ser o ponto alto desse evento pan-europeu que a cada ano é celebrado em uma cidade diferente do continente, mas o Ministério do Interior da Sérvia o proibiu na última terça-feira por razões de segurança.
Grupos de extrema direita ameaçaram organizar suas próprias manifestações, após uma série de protestos contra esse evento na capital da Sérvia.
"Já estive em várias Paradas mas essa é um pouco mais estressante que as outras", declarou à AFP Yasmin Benoit, modelo e ativista em frente ao Conselho Constitucional, local planejado para o encontro.
"Sou do Reino Unido, onde todo mundo é mais solidário", disse a modelo. "Mas aqui, isso é realmente o que uma Parada deveria ser", acrescentou, referindo-se à luta social nas origens do movimento.
"Estamos lutando pelo futuro desse país", destacou Luka, um manifestante sérvio que preferiu não revelar seu sobrenome.
A tropa de choque da polícia foi mobilizada em torno da manifestação e afastou pequenos grupos de contra-manifestantes que exibiam cruzes e outros sinais religiosos.
Segundo a emssora de TV N1, houve confusão entre a polícia e os contramanifestantes, alguns dos quais atiraram bombas de fumaça nos agentes e danificaram vários veículos.
Finalmente, o ministério do Interior informou que 31 pessoas tinham sido presas e, embora as autoridades não tenham dado detalhes sobre os detidos, jornalistas da AFP vieram vários contramanifestantes sendo levados.
- "Aprovação implícita da intolerância" -
A proibição da parada provocou a indignação de ONGs de direitos humanos e provocou críticas internacionais. Mais de 20 países pressionaram para que a celebração não fosse proibica, assim como a União Europeia (UE).
"A decisão do governo sérvio de cancelar a EuroPride é uma rendição vergonhosa e uma aprovação implícita da intolerência e das ameaças de violência ilegal", disse Graeme Reid, diretor do programa de direitos LGBT da Human Rights Watch.
Ao menos 15 membros do Parlamento Europeu haviam anunciado que se uniriam à marcha do Orgulho em demonstração de solidariedade.
Os manifestantes finalmente concluíram o percurso, debaixo de chuva, entre o Conselho Institucional e um parque próximo - um trajeto muito menor em comparação com a marcha inicialmente prevista.
A Sérvia é candidata à União Européia há uma decada, mas os Estados-membros têm mostrado sua preocupação ao longo dos anos por sua posição em temas dos direitos humanos.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo não é legal neste país de sete milhões de habitantes, onde a homofobia segue fortemente enraizada, apesar de alguns avanços contra a discriminação.
As marchas da Parada LGBTQIA+ de 2001 e 2010 foram atacadas pela extrema direita e marcadas pela violência contra os participantes. Desde 2014, o evento é celebrado sem grandes incidentes, mas sempre sob forte proteção policial.
No último fim de semana, milhares de pessoas, incluindo nacionalistas de extrema direita e padres ortodoxos, foram às ruas contra a marcha deste ano.
* AFP