A audiência preliminar para decidir se os ex-presidentes panamenhos Ricardo Martinelli e Juan Carlos Varela serão processados por suspeita de lavagem de dinheiro para a empreiteira brasileira Odebrecht terminou nesta quarta-feira (28) após duas semanas de alegações, informou a juíza encarregada do caso, Baloísa Marquínez.
"O tribunal se ampara nos termos da lei para a emissão desta resolução", disse a magistrada, após dar por encerrada a audiência, realizada desde 12 de setembro na Cidade do Panamá.
Segundo a lei, a juíza deve anunciar sua decisão em no máximo 30 dias úteis, mas há várias exceções legais que poderiam estender esse prazo.
O Ministério Público, a parte acusadora, "está satisfeito de que um caso tão grande como este, que refletiu seis anos de investigação, tenha podido terminar com a audiência preliminar", disse a jornalistas a procuradora anticorrupção, Ruth Morcillo.
"Estamos certos" de que haverá "um chamamento a juízo" dos indiciados, acrescentou.
O Ministério Público anticorrupção do Panamá pediu para enviar a julgamento Martinelli e Varela, sob a acusação de lavagem de dinheiro proveniente da Odebrecht. A empresa reconheceu ter pago propinas milionárias no país centro-americano.
Segundo as acusações, Martinelli (2009-2014) e Varela (2014-2019) teriam recebido dinheiro da construtora por meio de empresas de fachada e contas no exterior entre 2008 e 2014.
Além dos ex-governantes, o MP também solicitou o julgamento de cerca de 50 pessoas, incluindo vários ex-ministros.
Em 2016, a Odebrecht se declarou culpada perante um tribunal dos Estados Unidos de ter distribuído mais de US$ 788 milhões em propinas a autoridades governamentais, funcionários públicos e partidos políticos, principalmente na América Latina.
No Panamá, a empresa reconheceu ter pago US$ 59 milhões em troca de contratos para a construção de obras públicas.
Os filhos do ex-presidente Martinelli, Ricardo e Luis Enrique Martinelli, estão presos nos Estados Unidos após terem se declarado culpados de receber US$ 28 milhões em propinas da multinacional brasileira, enquanto o pai deles presidia o país.
Segundo o MP, em algumas obras executadas pela Odebrecht "houve superfaturamento" durante o governo de Martinelli, no qual Varela foi vice-presidente. Este último também teria recebido dinheiro durante seu primeiro ano de mandato.
Martinelli, que pretende se candidatar às eleições gerais de 2024, manifestou recentemente que o julgamento contra ele foi "manipulado" e se disse disposto a enfrentar qualquer punição se sua culpa ficar comprovada.
Os advogados de Varela, por sua vez, destacaram que "não há elementos que sustentem as argumentações" do Ministério Público por serem "inconsistentes" e "especulativas".
* AFP