O Irã denunciou nesta segunda-feira (30) como "tendencioso e político" o prêmio concedido pelo júri do Festival de Cannes ao filme "Holy Spider", que conta a história real de um assassino de prostitutas nesse país.
O festival de cinema francês concedeu no sábado o prêmio de melhor atriz à iraniana Zar Amir Ebrahimi, protagonista do thriller "Holy Spider", do diretor dinamarquês de origem iraniana Alí Abbasi.
O filme conta a história verídica de um serial killer que matou 16 prostitutas entre 2000 e 2001. O acusado, que recebeu o apoio de parte da população durante o julgamento, garantiu que queria tirar o vício das ruas de Mashhad (nordeste Irã), uma das principais cidades sagradas do xiismo.
A Organização Iraniana de Cinema, sob o Ministério da Cultura, criticou fortemente o Festival de Cinema de Cannes por ter "cometido um ato tendencioso e político ao exaltar um filme falso e indecente", segundo um comunicado oficial.
Para este órgão, a obra "Holy Spider" apresenta "uma imagem deformada da sociedade iraniana e insulta abertamente as crenças trascendentes dos xiitas".
O comunicado também faz alusão ao escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie, ao afirmar que o filme "segue o mesmo caminho que Salman Rushdie com os Versos Satânicos".
Este livro custou ao autor viver sob proteção de 24 horas devido à publicação pelo fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, de um decreto religioso pedindo sua morte, garantindo que o romance insultava o Islã.
Em "Holy Spider", a atriz de 41 anos Zar Amir Ebrahimi (que teve que deixar o Irã em 2008 após a divulgação de um vídeo íntimo) interpreta uma jornalista que tenta desvendar esses crimes misteriosos, mas deve enfrentar o machismo da sociedade iraniana.
* AFP