O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, preparou seu mais recente desafio antes de os líderes da União Europeia (UE) se reunirem na segunda-feira para definir o sexto pacote de sanções contra a Rússia, que incluiria um embargo de petróleo.
O pacote proposto há semanas pela Comissão Europeia, braço executivo do bloco, exige o apoio unânime dos 27 países da UE. Mas o combativo Orban, reeleito em abril para um quarto mandato consecutivo, chamou o embargo de "linha vermelha" e de "bomba atômica" que destruirá a economia de seu país.
Budapeste, que sob Orban buscou uma reaproximação com Moscou, insiste que a proibição causaria recessão, escassez e aumentos de preços, além de prejudicar a segurança energética da Hungria.
Orban disse na semana passada em uma carta ao chefe da Comissão Europeia, Charles Michel, que não faz sentido falar do embargo na cúpula.
- Soluções antes de sanções -
"As soluções devem vir antes das sanções", declarou Orban, frequentemente contradizendo as decisões da UE e atualmente em desacordo com o bloco em questões de Estado de Direito.
Orban rejeitou a oferta de isenção da UE por alguns anos e insiste que o pacote isenta as importações de petróleo por oleodutos como o "Druzhba" (amizade), por onde passa 65% da demanda de petróleo do país.
Como alternativa, quer uma isenção mais longa e um período de transição de pelo menos três anos e meio a quatro anos, e pelo menos EUR 800 milhões (US$ 860 milhões) em fundos da UE para modernizar suas refinarias e aumentar a capacidade do gasoduto.
Diante disso, o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, e outros pediram à UE que aplique o embargo de qualquer forma. "Se 26 de nós concordarmos com isso, mesmo com exceção da Hungria, é um caminho que sempre apoiarei", disse ele à rádio pública alemã.
- Dinheiro em jogo -
Alguns especialistas duvidam do alarme oficial da Hungria sobre a proibição do petróleo russo.
"Será difícil para a economia, mas não para uma bomba atômica", disse à AFP Zoltan Torok, economista do Banco de Budapeste.
"Seria caro, potencialmente causaria alguns desabastecimentos que não serão resolvidos da noite para o dia, mas é um desafio que pode ser gerenciado", disse ele.
O conglomerado de energia húngaro MOL opera uma refinaria perto de Budapeste e outra na Eslováquia, ambas consideradas das mais modernas e adaptáveis da UE.
Na realidade, a resistência húngara se deve mais a um "ponto de vantagem" que a MOL desfruta atualmente devido à guerra, disse Tamas Pletser, analista de energia do Erste Bank em Budapeste.
Administrada por um aliado de Orban, a MOL costumava comprar petróleo russo por US$ 1 a US$ 3 a menos por barril do que o Brent.
Mas o medo do embargo fez com que essa diferença aumentasse para 30 a 40 dólares por barril.
"A MOL está ganhando dos dois lados, compra petróleo barato da Rússia e vende a um bom preço no mercado livre, está ganhando mais 10 milhões de dólares por dia", disse Pletser à AFP.
- Novo imposto -
Budapeste anunciou na quinta-feira um imposto inesperado que visa gerar 300 bilhões de forints (US$ 820 milhões) dos "lucros extras" das empresas de energia, especialmente a MOL.
O boom de impostos pode ajudar a sustentar as campanhas econômicas de Orban, como limites nos preços de combustíveis e serviços públicos, de acordo com Attila Holoda, ex-secretário de Estado de Orban e ex-funcionário da MOL.
"A negação do embargo é uma questão de dinheiro: para proteger os lucros da MOL e, indiretamente, as receitas fiscais", disse à AFP.
Medidas populistas, como tetos para os preços do petróleo, ajudaram Orban a conquistar a reeleição em abril, e a energia russa barata é fundamental para sua estratégia de permanecer no poder.
A Hungria assinou um acordo de fornecimento de gás com a russa Gazprom no ano passado, e três semanas antes da invasão russa da Ucrânia, Orban discutiu o acordo em Moscou com o presidente Vladimir Putin.
Orban seguiu uma linha neutra durante a guerra, não culpando Putin por iniciar a guerra e enviando ajuda humanitária - não militar - para a Ucrânia.
A Hungria depende da Rússia para 85% de seu gás, para o qual seu veto da sanção também é "por causa do perigo de que o próximo passo seja um embargo da UE ao gás, e isso seria uma bomba atômica", segundo Zoltan Torok.
* AFP