O governo do Chile anunciou nesta quarta-feira (11) que dobrará o orçamento destinado à compra de terras indígenas, reivindicadas como suas por direitos ancestrais e que hoje estão em mãos privadas, a maioria empresas florestais.
"Quando chegamos tínhamos 15 bilhões de pesos (17,3 milhões de dólares) para compra de terras e isso vamos a aumentar para chegar a 35 bilhões de pesos (40,5 milhões de dólares) até o fim do ano", anunciou a ministra de Desenvolvimento Social, Jeanette Vega.
Em um ato no palácio presidencial de La Moneda, juntamente com novos representantes eleitos da Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena (Conadi), a ministra destacou que em 2022 serão comprados 39 prédios destinados a 19 comunidades indígenas em todo o país.
"Temos um desafio que é que esta compra de terras seja acompanhada das condições para que se mantenham produtivas, que tenham serviços básicos e assegurar que o investimento do Estado ao redor do que estamos comprando permita que se mantenham como terras produtivas", afirmou Vega.
Ele acrescentou que a ideia do Executivo do presidente Gabriel Boric é alcançar a partir de 2023 investimentos da ordem de 86,9 milhões de dólares ao ano em compra de terras para os povos originários.
A posse das terras das regiões do sul do Chile está no centro das reivindicações das comuidades indígenas mapuches. Alguns grupos radicalizados têm reivindicado ataques a empresas florestais no âmbito de ações de sabotagem para fazer estas empresas recuarem do que consideram ser seus territórios.
Os mapuches, maior etnia chilena, foram relegados a viver em cerca de 5% dos terrenos que habitavam antes da chegada dos conquistadores espanhóis e de uma série de políticas estatais.
"Não é uma solução 100%, está claro para nós, mas o fato de fazer este gesto permite avançar pouco a pouco", disse a conselheira nacional da Conadi, Francisca Huirilef, do povo mapuche.
O representante do povo aimara, Zenón Alarcón, destacou por sua vez que "é um marco histórico" e que, embora "não seja suficiente" para restaurar a "dívida histórica" do Estado com os povos originários em questão de território "é um passo tremendamente relevante".
O Chile reconhece a existência de dez povos originários em seu território (mapuche, aimara, rapa nui, diaguita, atacamenho, quéchua, colla, chango, kawashkar e yagán).
Durante o passado governo do conservador Sebastián Piñera (2018-2022) não foi realizada nenhuma compra de terras através da Conadi, segundo a conselheira nacional da corporação Ana Llao, do povo mapuche.
* AFP